Maite Rodal.
Haia, 25 dez (EFE).- A Holanda viveu em 2012 rápidas mudanças políticas que fizeram com que antimuçulmanos e eurocépticos perdessem influência, embora ainda pressionem às posições mais moderadas, que venceram as eleições do último mês de setembro.
O terremoto político começou em março, quando de forma inesperada o parceiro do Executivo do primeiro-ministro, o liberal Mark Rutte, o partido antimuçulmano de Geert Wilders, se retirou de uma crucial negociação para aprovar um pacote adicional de ajustes orçamentários.
Após semanas de bom entendimento entre os líderes da Democracia Cristã e os liberais, que formavam uma coalizão de Governo com o apoio dos antimuçulamos, estes romperam a sintonia ao não verem cumpridas suas exigências, principalmente em matéria de endurecimento da política de imigração.
Wilders, com 24 cadeiras conquistadas em 2010, tinha pressionado desde o início da legislatura o Executivo de minoria, que necessitava dos antimuçulmanos para conseguir uma maioria no Parlamento.
Além do tema da imigração, Wilders pressionava também com sua posição eurofóbica e destacava em reiteradas ocasiões sua posição favorável à saída da Grécia da zona do euro e até mesmo da Holanda se tivessem que continuar "pagando" aos países do sul.
A analista política da Universidade de Amsterdã, Tjiske Akkerman, comentou à Agência Efe que a queda de Wilders (PVV) nas eleições de setembro (nas quais ficou com 15 deputados), se explica "porque ao ter deixado o Executivo cair, para um número de eleitores se tornou um partido que deveria ser privado da influência no Governo".
O especialista acrescentou que para isso também contribuíram "as picuinhas internas do partido, que o mesmo PVV reconheceu que influenciaram na perda de eleitores".
A isso se uniu a falta de confiança do eleitor na política econômica de Wilders, indicou Tjiske.
No entanto, essa saída do Governo e uma influência menor que a esperada dos socialistas eurofóbicos (SP) no processo eleitoral não evitaram que a coalizão entre os liberais de Rutte e os trabalhistas do carismático Diederik Samsom escapasse da pressão dos extremistas.
"Os extremistas seguem presentes. Nestas eleições tiveram menos influência que o esperado, mas Wilders na direita e o SP na esquerda são duas correntes muito importantes, sobretudo neste contexto de crise econômica, que provavelmente os fará crescer", opinou Tjiske.
Acrescentou que, por esse motivo, a atual coalizão não pode ser comparada com a que governou a Holanda nos anos 1990 e nem que a estabilidade que tanto defendem esteja garantida.
A rapidez com a qual caiu o Governo, a imediata realização das eleições, a curta campanha eleitoral e a pressa dos vencedores para formar Governo não jogaram a favor da estabilidade política no país, segundo a analista política.
"Todo mundo viu que foram rápidos demais nas negociações de Governo e na agenda de enormes mudanças e cortes orçamentários, com os quais os eleitores tiveram problemas", detalhou Tjiske.
A analista se referiu assim aos planos do novo Executivo de Rutte de tornar o seguro de saúde mais proporcional às receitas.
Depois que diversos cálculos demonstraram que essa medida afetava de maneira drástica o poder aquisitivo da classe média - a base dos eleitores liberais -, o Executivo se viu obrigado a modificá-la inclusive antes da posse dos ministros.
Uma possível nova piora da economia, que possa motivar a aplicação de novos cortes, "vai dificultar as coisas para o novo Governo", acrescentou.
Desde 2010, a Holanda aprovou ajustes orçamentários que chegam a 46 bilhões de euros, dois terços dos quais foram estipulados neste ano. O país também se perfilou durante 2012 como defensor de um estrito controle sobre o déficit fiscal na União Europeia. EFE