SÃO PAULO (Reuters) - As medidas do governo para o rotativo do cartão do crédito vão ajudar a reduzir a inadimplência e os juros cobrados, avaliou a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), que no entanto criticou a ideia de uma redução brusca no prazo de repasse de recursos dos bancos para lojistas.
"A adoção de medidas técnicas adequadas permitirá redução da inadimplência e estimular condições mais propícias para uma convergência da taxa de juros", disse nesta quinta-feira o presidente da Abecs, Marcelo Noronha, a jornalistas.
A declaração veio horas após o governo federal ter anunciado projeto que prevê limitar em até 30 dias o uso do rotativo, quando o cliente refinancia a fatura do cartão de crédito.
A medida, que deve entrar em vigor até março, prevê que, após um mês, o saldo devedor seja parcelado pelo banco por até 24 meses. Nesse modelo, a taxa de juros cobrada é bem inferior à do rotativo, a mais cara do mercado, que hoje ronda os 500 por cento ao ano.
Ao anunciar as medidas, o presidente Michel Temer afirmou que permitiriam que o juro médio do financiamento do cartão caísse pela metade.
Segundo Noronha, os bancos que oferecem o financiamento parcelado de dívidas do cartão cobram taxas de um dígito ao mês, nível bastante inferior aos cerca de 15 por cento do rotativo.
Ao comprometer uma parcela menor da renda do consumidor, o novo modelo de financiamento concorreria para menores índices de inadimplência e, consequentemente, queda dos juros.
De acordo com o executivo, no curto prazo os bancos teriam mais perdas do que ganhos com a mudança. Isso porque as taxas elevadas do rotativo compensam com sobras as perdas eventuais com calotes.
Mais adiante, no entanto, essa relação tenderia ao equilíbrio, dado que os bancos também teriam que fazer menores reservas de capital, proporcional ao risco.
REDUÇÃO BRUSCA
Noronha criticou, no entanto, a possibilidade de uma redução brusca dos prazos para repasse dos bancos a lojistas nos pagamentos de compras com cartões de crédito.
"Entendemos que um cavalo de pau não seria apropriado", disse o presidente Abecs, em teleconferência com jornalistas, ao ser questionado sobre declaração do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o prazo para repassar os recursos aos lojistas, hoje de 30 dias, seria reduzido para até dois dias, caso o juro não caia.
(Por Aluísio Alves)