Investing.com - A situação ficou mais difícil para a Americanas (BVMF:AMER3), que pode precisar entrar logo em recuperação judicial após as inconsistências contábeis bilionárias levarem a uma batalha judicial com credores e à drenagem do caixa da companhia. Nesta quinta, 19, a varejista informou que avalia entrar com um pedido de recuperação judicial em caráter de urgência, entre as próximas horas e próximos dias, com a repercussão do escândalo.
A empresa pretende recorrer da decisão – primeiro revés na Justiça – que possibilitou um bloqueio de R$ 1,2 bilhão pelo banco BTG Pactual (BVMF:BPAC11). Se antes, a companhia calculava R$8 bilhões de caixa, esse valor é, na verdade, bem menor. Restariam apenas R$ 800 milhões disponíveis, sendo que uma parte estaria "injustificadamente indisponível para movimentação na data de ontem", conforme apontado pela Reuters. Na semana passada, BTG Pactual e BV, que é o antigo Votorantim, compensaram ou congelaram recursos e o Safra também bloqueou nos últimos dias o acesso da companhia ao sistema.
Do montante que era previsto de R$8 bi, a varejista calculava R$ 3 bilhões de recebíveis de fornecedores antecipados junto aos bancos, apurou O Globo. Mas, após a Americanas ter conseguido uma tutela judicial na semana passada, o clima piorou e os bancos não quiseram realizar a operação. O BTG subiu o tom e chamou a atuação da Americanas de fraude, cobrando punição dos responsáveis. Já a Americanas se defendeu e disse que a atitude dos credores prejudica a viabilidade da empresa. Nesta quarta-feira, 18, a Justiça do Rio de Janeiro reverteu decisão que protegia a varejista de cobranças do BTG Pactual.
"A companhia vai recorrer da decisão, que fere seu esforço na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos", informou a varejista em fato relevante divulgado na manhã desta quinta.
Uma auditoria será realizada para apurar o valor correto dos erros e apontar a responsabilização para o caso. Agências de rating já rebaixaram a classificação da varejista diante da fraude contábil. Enquanto isso, a B3 (BVMF:B3SA3) avalia se tira a companhia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Entenda o caso
A crise na varejista começou com a renúncia do então CEO Sergio Rial, que apontou inconsistências contábeis nos balanços da companhia, com valores que seriam de dívidas bancárias sendo contabilizadas como de fornecedores.
Após a saída, Rial afirmou que a varejista teria uma situação de caixa confortável, cerca de R$7,8 bilhões, para poder cumprir suas obrigações e manter as operações enquanto negociava a situação com os bancos.
Proventos robustos
Os acionistas da Americanas receberam proventos recordes em 2022, com pagamento de R$ 0,62 por papel, ou R$ 550,6 milhões. Conforme uma análise do TradeMap para o NeoFeed, entre os anos de 2009 a 2017, a Americanas teria pagado valores entre R$ 0,01 e R$ 0,04 por papel. Em 2020, por exemplo, chegou a R$ 0,21.
No setor varejista, a Via (BVMF:VIIA3) não realiza pagamento de proventos como dividendos ou juros sobre o capital próprio (JCP) desde o ano de 2018. Já a Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) pagou R$ 100 milhões, ou R$ 0,01 por ação no exercício de 2021.
Durante uma década, os executivos companhia teriam embolsado pelo menos R$ 700 milhões em remunerações, incluindo salários, proventos e outros, segundo levantamento realizado pelo jornal Valor Econômico.