SÃO PAULO (Reuters) -A Americanas (BVMF:AMER3) divulgou comunicado à imprensa na noite da véspera reclamando da decisão que suspendeu do Novo Mercado a companhia responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do país, o segmento de mais alto grau de governança da B3 (BVMF:B3SA3).
A B3 anunciou na véspera que decidiu suspender a empresa do Novo Mercado, cerca de 10 meses depois do escândalo bilionário revelado pela então diretoria da própria empresa em janeiro e que acabou prejudicando a oferta de crédito ao varejo nacional.
Apesar do rombo bilionário na contabilidade da companhia, a Americanas afirmou no comunicado ao mercado que "cumpre todos os requisitos do Novo Mercado, com os controles exigidos, e confia que a decisão seja devidamente revista".
A Americanas reafirmou ainda discurso que vem repetindo há meses desde as revelações de janeiro de que foi "vítima" de "fraude" de sua antiga diretoria, que ficou no comando da companhia por cerca de duas décadas.
A endividada rede de varejo, que ainda não chegou a um acordo com os bancos sobre a dívida, aproveitou a ocasião para criticar o Novo Mercado ao afirmar que o regramento do segmento "não blinda uma sociedade contra fraudes complexas como a verificada na Americanas".
De acordo com o Instituto Empresa, que atua na defesa de acionistas minoritários de empresas, a B3 reconheceu em seu parecer que os fatos relacionados ao escândalo contábil revelado em janeiro deste ano não podem ser atribuídos, como a Americanas pretendeu, a alguns diretores.
"A B3 responsabilizou o Comitê de Auditoria, o Conselho Fiscal e mesmo o Conselho de Administração, revelando que as estruturas de controle da Companhia estavam todas comprometidas", afirmou em nota Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.
"Ainda que integrado por pessoas, os órgãos devem ser funcionais e eficientes. O Comitê de Auditoria sequer atas de suas reuniões possuía, a revelar que, na prática, não atuava."
A decisão da B3 marcou a primeira vez que uma empresa foi suspensa do segmento Novo Mercado. A decisão tem efeito dentro de 15 dias, prazo que a B3 deu à Americanas para recorrer, e permanece em vigor até que a empresa cumpra quatro condicionantes: a divulgação de relatório do comitê independente; demonstrações financeiras sem ressalvas de auditoria; relatório de controles internos; e a atualização de todas as informações financeiras pendentes até o momento.
A Americanas afirmou em comunicado ao mercado também na noite da véspera que vai recorrer "o que deverá suspender os efeitos da sanção até decisão sobre o recurso, e confia no seu integral provimento".
Por volta de 11:55, os papéis da companhia recuavam 3,57%, a 0,81 real.
Em outubro, a empresa adiou novamente a divulgação de seus balanços financeiros. A nova data prevista é 13 de novembro.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Paula Arend LaierEdição Gabriel Araujo e Pedro Fonseca)