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ANÁLISE-Ajustes fiscais pioram expectativas de inflação, mas são aplaudidos

Publicado 15.01.2015, 16:52
© Reuters. Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini (E), e ministro da Fazenda, Joaquim Levy (D). 27/11/2014

Por Flavia Bohone

SÃO PAULO (Reuters) - O custo está cada vez mais alto, mas vai valer a pena mais para frente. A frase pode resumir o atual cenário econômico, em que o governo vem anunciando medidas fortes de ajuste fiscal, piorando as expectativas de inflação e reforçando ainda mais a sensação de que ela vai estourar o teto da meta neste ano.

Mas todos os especialistas consultados pela Reuters são unânimes em defender que essa é a saída para que o país volte aos trilhos para ter crescimento sustentável e preços sob controle, ainda que demore um pouco.

"Este ano é preciso fazer uma arrumação para permitir melhorias mais para frente", resumiu o economista do Itaú Unibanco Elson Teles, que vai piorar sua projeção do IPCA deste ano --de alta de 6,5 por cento, por enquanto.

Segundo ele, essa "arrumação" vai permitir que a inflação oficial recue em 2016. Por enquanto, calcula a alta de 6 por cento, mas também já adiantou que vai revisá-la e, neste caso, para baixo.

Em poucas semanas, a nova equipe econômica neste segundo mandado da presidente Dilma Rousseff --encabeçada pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini-- já tirou do papel ações que cortaram subsídios e certamente vão pressionar os preços.

A mais pesada foi a decisão de não bancar mais os elevados custos do setor elétrico, passando aos consumidores a tarefa que pode levar a aumentos de cerca de 40 por cento nas tarifas só neste ano. Tudo isso para tentar colocar em ordem as contas públicas do país, bagunçadas nos últimos anos pelos excessos de subsídios e manobras fiscais, que minaram a confiança dos agentes econômicos.

"Se o governo quiser realmente enfrentar uma escolha fiscal que exige alta de tarifas e fim de subsídios, não é possível cumprir o teto da meta (de inflação neste ano)", disse o economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, que foi secretário do Tesouro Nacional no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como Levy, e prevê o IPCA subindo 7,2 por cento neste ano.

Para Kawall, os preços finais da energia elétrica devem subir 38 por cento neste ano devido a essas mudanças, com impacto de mais de 1 ponto percentual na inflação.

Economistas de instituições financeiras, consultados na pesquisa Focus do BC, prevêem o IPCA fechando 2015 com alta de 6,60 por cento, acima do teto da meta --de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Já os preços administrados subiriam 8 por cento.

Além dos preços monitorados, também têm entrado na conta das expectativas de inflação os sinais dados pelo governo de que impostos vão subir. Estão na lista, entre outros, aumento da alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), atualmente zerada.

"A Cide já chegou a 28 centavos (de real) por litro da gasolina, mas nós supomos que vai ser metade disso", disse Teles, do Itaú.

MENOS EM 2016, MAIS AINDA ALTA

Para o próximo ano, a expectativa dos agentes econômicos é que será iniciada trajetória de desaceleração da inflação, mas ainda longe do centro da meta, ao contrário do que o BC tem defendido.

Tombini já afirmou algumas vezes que o IPCA subirá no primeiro trimestre, mas passaria a perder força por "um longo período" para convergir para o centro da meta em 2016..

O boletim Focus mostra que economistas projetam inflação de 5,70 por cento em 2016, ainda mais perto do teto do que do centro da meta.

"Esse realinhamento das tarifas (em 2015), apesar de apresentar grande pressão, é extremamente positivo para economia", disse a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que prevê alta de 6,8 por cento do IPCA neste ano, com riscos de superar este patamar.

"Se tudo der certo, vamos entrar em trajetória descendente (de inflação em 2016), mas ela será lenta", acrescentou a economista, que vê o IPCA encerrando 2016 a 6,5 por cento, com viés de baixa.

© Reuters. Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini (E), e ministro da Fazenda, Joaquim Levy (D). 27/11/2014

Com a pressão maior vindo dos preços administrados neste ano, a tarefa do BC será controlar os efeitos secundários na inflação.

Com as medidas fiscais que estão sendo tomadas, a expectativa do mercado é de que não será preciso um aperto monetário tão grande como em outros momentos. O relatório Focus aponta para a elevação da taxa básica de juros Selic a 12,50 por cento neste ano, dos atuais 11,75 por cento.

"Teremos um aperto fiscal muito relevante, então, não seria necessário um aumento mais forte (da Selic)", disse Tatiana, do Santander.

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