Por Jamie McGeever
BRASÍLIA (Reuters) - O risco político está novamente emergindo como importante fonte de instabilidade para o mercado no Brasil, pois uma série de contratempos para o presidente Jair Bolsonaro minam recuperação ampla que parecia estar ganhando impulso após o colapso do mercado em março.
O status do Brasil como o segundo país com mais casos de Covid-19 no mundo, erros na abordagem para a pandemia por Bolsonaro, suas batalhas com Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso Nacional e renúncias de integrantes do governo colocaram firmemente Brasília no campo de visão de investidores.
O crescente sentimento de desordem está angustiando investidores, que temem que as disputas constitucionais e institucionais de Bolsonaro coloquem em risco a agenda de reforma econômica e austeridade do governo e possivelmente a ponha na geladeira por mais tempo.
"Os mercados estão começando a olhar novamente para a política", disse Alexandre Song, sócio da Macro Capital, hedge fund em São Paulo.
"A reação de preço não tem sido dramática demais até agora, mas está se deteriorando. Parece que os mercados estão festejando ao lado de um vulcão ativo do qual há fumaça saindo", disse ele.
A taxa de câmbio e a volatilidade da moeda, bons indicadores em tempo real do nervosismo no mercado, refletem o desempenho inferior do Brasil nas últimas semanas. O real cai 12% contra o dólar em relação à recente máxima de 8 de junho, mais do que seus pares e, em muitos casos, significativamente mais.
Enquanto isso, a volatilidade saltou quase aos níveis atingidos no auge do colapso do mercado global em março.
A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para um mês subiu para 25% na semana passada, a maior desde março, quando atingiu 30%, e na sexta-feira a volatilidade implícita de três meses avançou a 21,7%, ainda mais perto do pico de março, de 22,5%.
Questões econômicas e de saúde pública com as quais Bolsonaro está lidando não são exclusivas do Brasil. O mundo está entrando em sua recessão mais profunda em décadas, a pandemia de Covid-19 não conhece fronteiras geográficas, e pessoas estão morrendo em todo o mundo.
Mas, de acordo com Thomaz Favaro, diretor da Control Risk, consultoria de risco político em São Paulo, o tratamento da crise por Bolsonaro o colocou em um grupo seleto de líderes mundiais cujas taxas de aprovação caíram durante a pandemia.
"Agora temos uma crise política em cima de uma crise de saúde e econômica", disse Favaro.
"Muitos poucos países tiveram resposta tão disfuncional ao Covid como o Brasil, e isso está jogando combustível ao fogo, no sentido de que 'quando a recuperação econômica começará e quão acentuada ou não será essa recuperação?'", disse ele.
Mesmo especulações remanescentes sobre intervenção militar para aumentar o poder de Bolsonaro, embora improvável, não desapareceram.
"FRÁGIL SITUAÇÃO"
A economia está caminhando para seu maior colapso desde o início dos registros, há 120 anos. Enquanto isso, gastos emergenciais elevarão a dívida do governo a um nível recorde, enquanto o número de casos confirmados de coronavírus ultrapassou a marca de 1 milhão e mais de 57 mil pessoas morreram.
Os ativos brasileiros se recuperaram das mínimos de março, em linha com a retomada do mercado global. Mas o Ibovespa ainda acumula queda de 20% neste ano, e o real perde 25%, enquanto o spread entre as taxas de juros de curto e longo prazo é mais que o dobro do visto em janeiro.
A posição pré-pandemia do Brasil era mais fraca do que a de muitos outros países, com crescimento econômico anêmico, alta dívida pública interna e clima político instável.
Nas últimas duas semanas, o respeitado secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, disse que deixaria o cargo; o controverso Abraham Weintraub renunciou ao posto de ministro da Educação; e a polícia prendeu um ex-assessor do filho mais velho de Bolsonaro em investigação que ameaça ameaçar prejudicar o presidente e intensificar seu embate com o Judiciário.
Nenhum desses eventos, por si só, poderia ter causado oscilações no mercado. Mas juntos, em cenário de recessão e emergência de saúde pública, eles causaram um golpe.
"Investidores ignoram o risco político até que deixam de ignorar", disse Emily Weis, estrategista macro da State Street, em Boston.
"A pandemia expôs algumas das fragilidades do governo, embora isso não seja apenas uma questão do Brasil. É uma situação realmente frágil", disse ela.