Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - As emissões domésticas de dívida corporativa devem mostrar resiliência em 2023, mesmo num cenário de juros altos, segundo o vice-presidente de mercado de capitais da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), José Eduardo Laloni.
"Não deve ser um ano maravilhoso para emissões, mas também não acredito que será horroroso", disse Laloni em entrevista à Reuters.
As captações de empresas no mercado de capitais brasileiro nos primeiros 11 meses de 2022 somaram 466,5 bilhões de reais, uma redução de 10,5% ante mesmo período de 2021, refletindo sobretudo a esfriamento das ofertas de ações. Porém, as captações com debêntures no período, de 234,9 bilhões de reais, foram 4,5% maiores do que no mesmo intervalo do ano passado.
"Em 2022, o mercado já foi capaz de ter aumento das emissões de renda fixa, mesmo com taxa de juros alta", disse Laloni. "Para o ano que vem, há vários projetos de infraestrutura saindo da gaveta, de áreas como saneamento, rodovias e setor elétrico, que devem acontecer."
Segundo profissionais do mercado, parte da atividade na renda fixa foi assegurada porque muitas companhias brasileiras preferiram captar no país diante do cenário externo também mais hostil, com aumento de juros nos Estados Unidos e na Europa.
Até novembro, as captações de empresas nacionais no exterior com renda fixa ou variável somaram 5 bilhões de dólares ante 25 bilhões em igual intervalo de 2021.
Para Laloni, o "Brasil ainda tem uma cara boa entre os emergentes", considerando que outros países em condições de disputar o bolso de investidores globais enfrentam questões mais sérias, como a Rússia, em guerra com a Ucrânia, ou mesmo a China, que tenta superar uma crise imobiliária e dúvidas sobre a atividade econômica diante de medidas de isolamento social contra Covid.
Segundo o executivo, a despeito do pessimismo que tomou conta de parte do mercado na semana passada com a indicação de Aloizio Mercadante, uma figura histórica do PT, para chefiar o BNDES, a tendência é que o banco de fomento mantenha uma postura de parceria com o mercado de capitais.
"O mercado de capitais está mais maduro agora, não há muito espaço para subsídios", disse.
Para Laloni, diante de um cenário ainda pouco animador para instrumentos de renda variável, o mercado externo com juros elevados, os papéis de renda fixa devem encontrar interesse de investidores, especialmente se for aprovada uma legislação que isenta estrangeiros de imposto de renda com ativos privados.
"É um outro bolso que pode se abrir para o Brasil."