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André Perfeito: Juro deve subir porque o mercado tem feito apostas muito erradas

Publicado 12.09.2024, 16:05
© Divulgação

Investing.com – O mercado financeiro está disfuncional e seria necessário reancorar as expectativas inflacionárias diante de um “bom problema” que o Brasil está enfrentando: uma economia com crescimento pujante.

Essa é a opinião do economista André Perfeito, que espera uma elevação na taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) na próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre na semana que vem.

“Por que vai subir? Por que o mercado pede? Porque o mercado tem feito apostas muito erradas há muito tempo”, entende Perfeito.

“Já que é para fazer um ajuste, sobe a taxa de juros forte. Seria melhor, talvez, rápido”, acredita o economista, apesar de entender que essa não será a decisão do colegiado.

O economista contesta a percepção de que as pressões inflacionárias devem continuar e entende que haverá um esmaecimento dessas dinâmicas. Perfeito entende que os receios no mercado sobre o tema estão um pouco deslocados.

“E esse deslocamento é explicado dentro da hipótese que eu tenho, que, dado que o mercado financeiro vem fazendo leituras muito erradas do movimento, do governo, da economia, isso tem gerado perdas. E essas perdas estão se traduzindo em um maior conservadorismo do que inicialmente seria razoável supor na situação”, avalia o economista.

No entanto, no cenário externo, a expectativa é de condições mais favoráveis, com expectativa de corte na taxa de juros americana no mesmo dia, antes da decisão do Copom.

“O meu receio é de que os mesmos economistas que estão agora falando que tem que subir por conta daqueles três motivos, vão ser os economistas que, uma vez iniciada a alta aqui e o corte lá fora, vão falar que talvez tenha sido demais esse processo”, entende o economista.

Veja a entrevista na íntegra:

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Investing.com – Na última nota que você mandou ao mercado, você falou que acredita que vai haver um aumento, apesar de considerar que essa não seria, talvez, a decisão correta. O que leva a essa expectativa? E o que você julgaria que seria adequado?

André Perfeito – O mercado está projetando alta da Selic por conta de três grandes motivos. De um lado, você tem a dinâmica inflacionária por si mesmo. Existe uma preocupação que é o aumento da demanda que está sendo verificado, ela não se traduz de forma virtuosa em investimento, mas se degenera em inflação.

Enfim, isso é uma discussão que tem toda hora. O mercado olha os serviços subjacentes, medidas de núcleo, nesse sentido que, obviamente, gera preocupações com a dinâmica inflacionária como um todo. Então, isso é um conjunto de fatores que estão levando a essa alta de juros agora.

Um outro conjunto de fatores tem a ver com a dinâmica fiscal. E a questão da dinâmica fiscal, além das questões de curto prazo, propriamente, se o governo roda déficits muito fortes, isso implica dizer que ele vai estar ofertando muito título público, porque ele vai ter que financiar essa dívida.

Na hora que você aumenta a oferta de títulos públicos, necessariamente, os juros sobem. Que nem qualquer mercadoria, se você colocar muito de uma mercadoria no mercado, o que acontece com o preço dela? Cai. Então, você tem esse jogo também que tem a ver com a questão fiscal e como isso bate na emissão de dívida do governo. O que gera também uma série de perspectivas de mais alta de juros a curto prazo.

E existe um terceiro conjunto de questões que tem a ver com a comunicação do Banco Central, que desde aquela reunião que foi placar rachada, a impressão que se tem é que, apesar de eles terem votado de maneira unânime depois, aí está chegando nessa reunião uma situação estranha, onde o Campos Neto aponta que deveria ter uma alta só de 25 p.p. ou nem nada, e o Galípolo tem apontado com um pouco mais de preocupação, onde ele aponta que pode subir 50 pontos base, de repente. Então, você tem um ruído também dentro da diretoria mesmo.

Então, essas três coisas levaram o mercado a projetar início de alta agora. Vamos pensar o que é essa alta. Se sobe só 0,25 e para? Não. Ninguém nunca fez isso na história da política monetária brasileira. O que se imagina é algum tipo de alta continuada da taxa básica. E essa alta continuada da taxa básica tem um certo limite para acontecer, porque a gente vai estar num mundo onde, simultaneamente, haverá corte na taxa de juros nos Estados Unidos.

O meu receio é o seguinte: que essa alta da taxa de juros seja contraposta com essa queda da taxa de juros nos Estados Unidos. E mais que isso, a queda na taxa de juros nos Estados Unidos pode gerar outros benefícios para a dinâmica inflacionária, por exemplo.

A gente pode ver, não é nem o real ficar forte, é o dólar ficar fraco, quando, efetivamente, começar esse processo de queda de juros nos Estados Unidos. Então, isso levaria a um real mais forte, quer dizer que preços de bens importados podem se tornar mais baratos para o Brasil, por exemplo.

O meu receio é de que os mesmos economistas que estão agora falando que tem que subir por conta daqueles três motivos, vão ser os economistas que, uma vez iniciada a alta aqui e o corte lá fora, vão falar que talvez tenha sido demais esse processo.

Porque isso acontece, cada um muda de opinião, não tem nada errado com isso. Mas eu acho que pode ser muito rápida essa mudança de opinião se efetivamente tiver uma situação em que não vai ter tanto problema, dado que os juros, em termos relativos e absolutos, vão estar mais altos aqui no Brasil.

Inv.com – Você comentou aqui que essas altas, a conta gotas, em 0,25 p.p. por 0,25p.p., não iriam ancorar as expectativas. Por quais motivos e o que poderia ancorá-las?

Perfeito – Tem duas coisas distintas, o mercado e os economistas. O relatório Focus se deslocou, a mediana virou essas três altas de 0,25 p.p.. O mercado já trabalha com a ideia de 0,25 p.p., depois altas de 0,50 p.p.. O mercado acho que é mais forte do que os economistas necessariamente estão falando.

A dúvida é que, já que é para ancorar a expectativa, talvez a alta, talvez a melhora terapêutica, seria uma alta mais rápida e mais forte. A gente vinha num corte de juros aqui no Brasil e esse corte de juros foi interrompido esse ano. Por quê? Porque a autoridade monetária entendeu que teria que deixar a taxa de juros ainda no patamar contracionista, ou seja, de dois dígitos. E a gente está num patamar bastante contracionista, não é nem só a taxa Selic que está alta. Você pega títulos longos, está pagando IPCA mais 6%, IPCA mais 6,5% às vezes, dependendo do investimento. Então, a minha opinião do ponto de vista do remédio monetário, é que ele já está no patamar contracionista.

As dinâmicas inflacionárias que você observou agora, elas tendem a se esmaecer. Entendo ser um equívoco fazer desse jeito. A taxa de desemprego caiu bastante, não caiu? Agora, a dúvida é o seguinte, vai continuar caindo para 3% de desemprego?

Isso traduz entre outras coisas numa dinâmica de salário que tende a não se expressar mais. Até os dados da margem, você pega a PNAD, o salário médio real subiu em 12 meses. Mas num trimestre contra outro, não subiu.

Acho que essas pressões que o mercado vê, que são legítimas de ver, elas já estão sendo, em alguma medida, enfrentadas. Então, para que subir mais? Eu tenho uma hipótese. Por que vai subir? Por que o mercado pede? Porque o mercado tem feito apostas muito erradas há muito tempo. Desde o início do ano passado, o mercado ficou sempre no contrapé. No início do ano, se achava, no ano passado, se achava que nem era cortar a taxa de juros no Brasil tão fortemente. Começou a cortar. Depois, começaram a projetar que ia cair para 9%. Erraram de novo. E agora, estou imaginando um processo de alta que eu acho que tem limite a esse processo de alta. Dito isso, acho que existe um mercado financeiro que erra muito.

Não era bom para ninguém. Por quê? Porque ele se torna muito mais conservador do que deveria ser. Bom, agora o Banco Central está com o dilema na mão. Ou ele vira e fala para todo mundo, olha, pessoal, o remédio aqui já está dado. Já é forte. E vamos manter essa taxa durante mais um tempo. Vamos ver o que vai acontecer com a economia depois do corte de juros nos Estados Unidos, etc.

Aparentemente, para a comunicação, ele não vai por esse caminho. Vai por um caminho que, sim, tem espaço para subir a taxa de juros. Agora, o processo de alta de juros, dependendo como eles falam e como eles vão encaminhar essa discussão, pode fazer o mercado achar que vai subir muito mais os juros, sendo que não vai subir. Esse que é o meu receio. Porque, imagina, no dia seguinte, como as moedas emergentes começam a se apreciar. E não é nem porque as moedas emergentes são fortes, é porque o dólar está fraco. E, no caso do Brasil, começa mais ainda. Exemplo também da inflação. O petróleo caiu esse ano em 12 meses, acho que está caindo 20% em dólar, por conta justamente da política monetária nos Estados Unidos. Uma hora isso vai bater para a gasolina para baixo.

Então, os receios no mercado sobre a dinâmica inflacionária, eles estão um pouco deslocados, na minha opinião. E esse deslocamento é explicado dentro da hipótese que eu tenho, que, dado que o mercado financeiro vem fazendo leituras muito erradas do movimento, do governo, da economia, isso tem gerado perdas. E essas perdas estão se traduzindo em um maior conservadorismo do que inicialmente seria razoável supor na situação.

Inv.com – Você acha que o aumento vai ser de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 ponto percentual na próxima decisão?

Perfeito – Na próxima, eu acho que vai ser 0,25 ponto percentual. E aí eles vão indicar que talvez vão iniciar um processo com um ciclo de alta. Ou esperar que as expectativas ancorem. Vão subir até ancorar as expectativas de mais longo prazo.

Inv.com – Espera algum tipo de guidance ou outro ponto no comunicado?

Perfeito – Eu acho que não um guidance no sentido de deixar explícito a taxa. Mas vai deixar explícito que eles entendem que é necessário a ancoragem das expectativas de maneira mais evidente. Acho que eles vão citar a história dos juros nos Estados Unidos, a queda dos juros. Que as condições estão mais favoráveis no mercado internacional, ou citar que existe até a preocupação de desaceleração das economias centrais.

Inv.com – Algum outro fator que você considera relevante e que gostaria que a gente mencionasse?

Perfeito – Existe um problema. O mercado financeiro está disfuncional, eu acho. Mas apesar da culpa ser do mercado, por assim dizer, a responsabilidade é do governo. Ou seja, eles vão ter que reancorar essas expectativas porque a gente está enfrentando um bom problema. O problema é que a gente está crescendo. Só que agora o drama é o seguinte. Se a gente cresce e de fato sobe a taxa de juros e isso inibe o investimento, por exemplo, aí vai se confirmar o segundo cenário.

Porque esse crescimento, esse aumento de demanda, vai se traduzir em degeneração. Vai se degenerar a inflação. Entende o jogo? É perigoso agora. Já que é para fazer um ajuste, sobe a taxa de juros forte. Seria melhor, talvez, rápido.

Porque o que o mercado vai falar, todo 2025 vai cair a taxa de juros. Já resolve o cenário mais para frente de investimento. Essa decisão do Copom vai ser realmente uma coisa da taxa e muito de comunicado.

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