Por Jeb Blount
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os investidores que apostam que uma mudança esperada há muito tempo na gestão da Petrobras levará a uma rápida recuperação financeira da estatal petroleira provavelmente irão se decepcionar.
Mesmo com as alterações no alto comando, há poucos sinais de que a Petrobras vá se recuperar rapidamente do maior escândalo de corrupção da história do país. As mudanças de executivos também não terão muito significado se a presidente da República, Dilma Rousseff, não conseguir aliviar a interferência política sobre a companhia ou falhar em reconhecer a dimensão total dos problemas.
As ações preferenciais da Petrobras subiram 24 por cento desde o início desta semana, sobretudo pela expectativa da renúncia da presidente-executiva da estatal, Maria das Graças Foster.
A Petrobras anunciou a saída de Graça e de outros cinco diretores, incluindo o diretor financeiro, Almir Barbassa, e o diretor de exploração, José Formigli, por meio de uma nota concisa divulgada nesta quarta-feira.
As renúncias ocorreram bem antes do fim de fevereiro, para quando eram esperadas, e surpreenderam o governo, que desejava ter mais tempo para encontrar substitutos.
Mas será preciso mais do que um novo presidente-executivo para fazer a Petrobras emergir das profundezas de um escândalo multibilionário envolvendo superfaturamento de preços e propinas.
Para mudanças sérias serão necessárias atitudes tomadas por Dilma, verdadeira chefe da petroleira, que foi a presidente do Conselho de Administração da estatal entre 2003 e 2010 e continua a acompanhar de perto os assuntos da companhia.
Somando seu tempo à frente do Conselho e como presidente da República, Dilma esteve à frente da Petrobras por 12 anos, período notório pela descoberta de novas reservas de petróleo mas também pelos débitos crescentes, custos excedentes, metas de produção não alcançadas e prazos estourados para a conclusão de projetos.
Foi também um período no qual alguns executivos da Petrobras se engajaram em práticas sistemáticas de superfaturamento e suborno junto a empreiteiras e outros fornecedores, dizem os promotores. Tanto Dilma como Graça negam ter tido qualquer conhecimento sobre o esquema, e nenhuma das duas chegou a ser acusada de qualquer irregularidade.
A investigação sobre a Petrobras ajudou a depreciar as ações da companhia em cerca de 60 por cento desde setembro, forçando a empresa a reduzir seus investimentos e prejudicando sua capacidade de angariar recursos financeiros. Reverter esse cenário será uma tarefa desafiadora para qualquer presidente-executivo.
"Não acreditamos que substituir Foster vá necessariamente trazer um fim para todos os problemas da Petrobras", disse o analista Leonardo Alves, da Votorantim Corretora, em São Paulo.
"O novo CEO vai ter que lidar com quase os mesmos problemas que Foster tem lidado: escândalos de corrupção, altas taxas de alavancagem e dificuldades para acessar os mercados de capital."
GRAÇA FOSTER SOB PRESSÃO
Graça parece ter sido pressionada por Dilma e membros do PT a deixar a Petrobras após ter se demonstrado disposta a reconhecer os problemas da companhia.
Em 23 de janeiro, Graça e outros membros da diretoria concordaram em declarar uma baixa contábil de 61,4 bilhões de reais em investimentos afetados pela corrupção e decisões de negócios que não deram certo, disse à Reuters na semana passada uma fonte com conhecimento direto sobre as ações da diretoria.
Quatro dias depois, a pedido de Dilma, o presidente do Conselho de Administração da empresa e ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, vetou a divulgação do número, pois a atitude ameaçava deixar a impressão de que a Petrobras e o governo são corruptos, disse a fonte sob condição de anonimato.
Depois disso, parecia ser apenas uma questão de tempo antes que Graça deixasse o cargo ou fosse forçada a sair. Na terça-feira, Dilma pediu a ela que ficasse até o fim do mês para que um substituto pudesse ser encontrado, de acordo com uma fonte do governo que também pediu para não ser identificada.
Mas Graça e seus subordinados diretos decidiram não esperar.
"A renúncia veio como uma surpresa para nós", disse o analista do setor de petróleo do banco BTG Pactual, Gustavo Gattas, no Rio de Janeiro, por meio de nota enviada aos clientes. "Abordamos a Petrobras com mais cautela hoje do que fizemos antes."
O fracasso em divulgar a baixa contábil também deixará a Petrobras, petroleira de grande porte mais endividada e menos rentável do mundo, de fora dos mercados de capital por pelo menos mais três meses. A falha também causou a redução da velocidade de muitos projetos cruciais, forçando a companhia a cortar em até 30 por cento seus gastos em 2015.
"O que está claro em relação ao desastre da não divulgação da baixa contábil é que eles ainda acham que podem esconder debaixo do tapete", disse um alto executivo do setor de petróleo que trabalha em parceria direta com a Petrobras.
A fonte, que pediu para não ser identificada porque falar publicamente poderia complicar a parceira com a Petrobras, disse ter poucas expectativas de que Graça seja substituída por um profissional respeitado pelo setor petrolífero e com liberdade para combater a corrupção.
EXECUTIVOS CANDIDATOS
José Carlos Grubisich, ex-diretor da companhia química Braskem; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central; Rodolfo Landim, um ex-executivo na própria Petrobras e na OGX; o ex-presidente-executivo da Vale Roger Agneli e o atual, Murilo Ferreira, estão entre os executivos cotados como possíveis substitutos.
"Não tenho mesmo nenhuma ideia de quem pode ficar com o cargo", acrescentou o executivo. "Tenho certeza apenas de que vai ser alguém em quem o PT de Dilma possa confiar, o que não é alguém que possa corrigir os problemas."
A mudança agora depende do Conselho de Administração, que segundo a Petrobras vai escolher uma nova equipe de diretoria na sexta-feira. Trata-se do mesmo Conselho que vetou a declaração da baixa contábil há duas semanas.
A maioria dos novos executivos deve vir de dentro da própria companhia, disse à Reuters um executivo com conhecimento direto sobre as mudanças na Petrobras.
Um dos dois diretores da petroleira que não renunciaram nesta quarta-feira é José Eduardo Dutra, um dos mais poderosos articuladores do PT.
Ex-presidente-executivo da Petrobras, Dutra agora controla a diretoria Corporativa e de Serviços, departamento que lida com a maior parte das contratações da companhia e com a gestão de projetos e que tem estado no centro das investigações de corrupção nos últimos anos.
(Reportagem adicional de Marta Nogueira, Rodrigo Viga Gaier, Guillermo Parra-Bernal, Asher Levine e Jeferson Ribeiro)