RIO DE JANEIRO (Reuters) - O vice-presidente da República, Michel Temer, afirmou nesta segunda-feira que as manifestações de domingo contra o governo da presidente Dilma Rousseff mostram que algo está errado e o governo precisa ter humildade para reconhecer e consertar.
Em discurso durante encontro com empresários fluminenses na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Temer disse ainda que o governo precisa saber ouvir os desejos manifestados pela sociedade nas ruas.
"Essas manifestações são mais que legítimas, e muitas vezes até necessárias", disse Temer, que participou mais cedo nesta segunda de reunião convocada por Dilma com a equipe de coordenação de governo, da qual participaram dez ministros.
"Quando se vê o clamor das ruas, se vê que algo está errado e precisa consertar. Essa foi a tônica da conversa com a presidente Dilma. O governo quer ver quais providências para atender o clamor das ruas", acrescentou.
Dilma convocou a reunião desta segunda no Palácio do Planalto para avaliar as manifestações enormes de domingo, que reuniram milhares de pessoas nas ruas em diversas cidades do país para protestar contra o governo e a corrupção, algumas a favor do impeachment da presidente.
O vice-presidente disse na Firjan ter defendido que o governo procure o empresariado para dialogar e buscar soluções em conjunto para o país, que enfrenta um momento de fraqueza da economia e inflação elevada.
"Eu disse que o governo precisa ser humilde, reunir o empresário e dizer: o que podemos fazer juntos? O diálogo é fundamental e tem que ser pautado pela humildade e pelo reconhecimento de que um equívoco possa ter sido cometido", afirmou.
"Não vamos nos impressionar negativamente com a força de ontem. Essa é uma força extraordinária da democracia, e devo aplaudir os movimentos das ruas, que foi incentivador de soluções que se eles não ocorressem talvez elas não viessem."
EVITAR INFLAÇÃO
Temer afirmou que neste momento o diálogo é fundamental. "É preciso conversar com o Congresso Nacional, que é quem aprova e desaprova. É preciso ouvir os setores para poder reprogramar a economia", declarou o vice-presidente.
"É preciso ter meios e métodos para evitar a inflação e não reduzir a possibilidade de desenvolvimento do país, que é o que traz emprego e gera produção. Acho que fundamentalmente são esses os pontos que devem pautar a preocupação do governo."
Recentemente, o governo sofreu uma derrota no Congresso ao não conseguir aprovar medida provisória que aumenta a contribuição previdenciária das empresas e que faz parte do ajuste fiscal proposto para este ano.
Temer não acredita que a necessidade de maior diálogo do governo passe obrigatoriamente pela troca de ministros. Para ele, poderá ocorrer "eventualmente uma modificação ministerial, que não é indispensável e nem solucionadora".
"A presidente se mostrou muito disposta em incrementar esse diálogo...Os ministros vão dialogar com todos os setores que eles representam. A ideia é que todo o governo conserve sobre esse tema", disse ele, negando que tenha sido afastado das principais negociações do governo.
"A presidente fala comigo com muita frequência; é claro que cada um tem o seu nucleozinho pessoal, mas nunca foi afastado das decisões", avaliou.
O vice-presidente da República ainda defendeu na Firjan mudanças no modelo de financiamento de campanhas majoritárias no Brasil. Ele propõe, dentro das discussões sobre a reforma política, a doação direcionada para apenas um candidato, nem que isso possa causar uma redução nos financiamentos de campanhas.
"Há setores político partidários que sustentam a eliminação da contribuição político partidária… meu conceito é que a doação é uma opção de cidadania. Uma empresa quando vai doar ela também está exercendo a cidadania; ao fazê-lo, deve fazer uma opção por aquela candidatura ou partido", declarou ele.
(Por Rodrigo Viga Gaier) 2015-03-16T181820Z_1006930001_LYNXMPEB2F0UG_RTROPTP_1_MANCHETES-POLITICA-TEMER-FIRJAN.JPG