Por Marta Nogueira e Stephen Eisenhammer
MARIANA, Minas Gerais (Reuters) - A retomada das operações da Samarco, responsável pelas duas barragens de rejeitos de mineração que se romperam na semana passada em Mariana (MG), ainda é incerta e dependerá da vontade da sociedade, afirmou nesta quarta-feira o presidente-executivo da companhia, Ricardo Vescovi.
"Para a operação da Samarco continuar, é preciso que isso seja legitimado pela sociedade, se a sociedade entender que a operação continue novamente, se a sociedade entender que nós somos importantes para a cidade de Mariana...", afirmou ele a jornalistas.
No entanto, ele ressaltou que "agora não é hora" para se falar em retomada das atividades da mineradora, que contribui fortemente com a economia local e é uma das maiores exportadoras do Brasil. O momento, ressaltou Vescovi, é de cuidar dos danos causados pelo desastre, cujos valores ainda estão sendo estimados.
O rompimento das barragens causou a morte de ao menos oito pessoas, segundo informação da prefeitura de Mariana nesta quarta-feira, a destruição de localidades próximas e um desastre ambiental que atingiu o Rio Doce no Estado vizinho do Espírito Santo. Há ainda mais de 20 desaparecidos.
Os funcionários da Samarco estão em licença remunerada de 9 de novembro até 29 de novembro. Depois, entrarão em férias coletivas de 30 novembro até 4 de janeiro, segundo o executivo. Ninguém foi demitido até o momento.
Durante os 50 dias que os funcionários permanecerão sem trabalhar, o executivo explicou que serão tomadas novas decisões sobre o que acontecerá posteriormente.
O representante da Samarco não entrou em detalhes sobre perdas que a empresa terá durante o período que ficará sem operar em Mariana.
A afirmação de Vescovi foi feita durante evento que reuniu os presidentes-executivos das gigantes mineradoras Vale e BHP Billiton, empresas acionistas da Samarco em partes iguais.
Murilo Ferreira, da Vale, e Andrew Mackenzie, da BHP, disseram que criarão um fundo com recursos financeiros para ajudar nos esforços de reconstrução das áreas atingidas pelo rompimento de barragens. Os valores ainda não foram definidos, e isso será ainda discutido com o Ministério Público Estadual de Minas Gerais.
De outro lado, o governo federal estuda punições por danos ao meio ambiente às empresas envolvidas no rompimento de duas barragens, disse nesta quarta-feira a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Após rumores na cidade de que a barragem de Germano, que não se rompeu, poderia estar representando riscos, o presidente da Samarco explicou que a empresa está realizando intervenções no local para aumentar a segurança, mas que a estrutura está estável.
PRODUÇÃO E ARRECADAÇÃO
A Samarco está paralisando nesta quarta-feira as suas unidades de pelotização em Ubu, no Espírito Santo, já que ficaram sem estoques após as minas da companhia em Mariana paralisarem a extração devido ao rompimento das barragens, afirmou o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), a jornalistas. A companhia não comentou o assunto.
O prefeito, que se reuniu com os executivos das empresas nesta quarta-feira, também quer que as companhias arquem com as despesas para o funcionamento normal de Mariana, que projeta uma queda de receita devido a uma redução de pagamentos de impostos oriundos da mineração.
Já a Vale informou anteriormente que o incidente reduzirá a produção de minas na região atingida pela enxurrada de lama neste ano e também em 2016.
Segundo a Vale, a produção de minério de ferro nas minas de Fábrica Nova e Timbopeba poderá ser impactada negativamente em 3 milhões de toneladas em 2015 e 9 milhões de toneladas em 2016.
Até o momento, segundo a assessoria de imprensa da mineradora brasileira, a meta de produção para o ano não foi alterada em função do desastre. A empresa deverá dar mais detalhes no evento Vale Day, realizado todo fim de ano, em Nova York.
RESPOSABILIDADES
Os presidentes da BHP e da Vale frisaram seu comprometimento em dar todo o suporte para que a Samarco realize os esforços necessários para reduzir os impactos sentidos pelo desastre.
"Nós não acreditamos que uma catástrofe como essa, com um comando multiplo, seja eficiente, e a Samarco tem se mostrado competente apesar do cenário devastador", afirmou o presidente da Vale, que destacou que o comando das operações é da Samarco.
Após ser cobrada por uma maior participação pública na assistência às vítimas e pela a publicação de informações, pela prefeitura de Mariana e por sindicalistas, Ferreira afirmou que ele está envolvido desde o primeiro momento.
"Eu fiz visitas, mas não preciso anunciar que fiz visitas", afirmou, explicando que não acreditava ser necessário publicar todas as medidas que estavam sendo tomadas por ele.
Ferreira destacou ainda que anteriormente nunca havia telefonado diretamente para o presidente da Samarco para dar qualquer recomendação. E que, depois do acidente, os dois estão permanentemente em contato.
Já a anglo-australiana ressaltou que está 100 por cento comprometida para dar todo o suporte para a Samarco realizar tudo o que precisa.
"Nós da BHP Billiton temos sentido muita tristeza e preocupação com a comunidade, e nós sentimos muito por cada um que sofreu ou vai sofrer com essa terrível tragédia", afirmou o executivo.