SÃO PAULO (Reuters) - “Orgulho e Preconceito e Zumbis” já não era grande coisa como romance – de Seth Grahame-Smith (que também colocou o nome de Jane Austen como coautora, embora ela não tenha culpa de nada disso). Mas poderia render algo melhor no cinema, o que claramente não é o caso aqui.
Os poucos bons momentos do filme homônimo de Burr Steers (“A Morte e Vida de Charlie”) decorrem do estranhamento do choque entre dois mundos distintos – a aristocracia inglesa do século XIX e os mortos-vivos, que parecem tão deslocados ali.
A premissa é a mesma do romance de Jane Austen, mas com zumbis entre uma cena e outra. Cinco irmãs de uma família falida, os Bennet, precisam se casar com um bom partido. Elizabeth (Lily James), a mais rebelde de todas, não pretende seguir os desejos da mãe (Sally Phillips, o que há de melhor no filme), ainda mais depois de conhecer o rico, porém esnobe, Sr. Darcy (Sam Riley), que também antipatiza com ela.
A única a se dar bem é Jane (Bella Heathcote), que se apaixona – e é correspondida – pelo Sr. Bingley (Douglas Booth, que parece saído de um ensaio de moda de revista para homens, tamanha sua expressividade). Porém, eles são de extratos sociais diferentes e deverão enfrentar alguns problemas se quiserem ficar juntos. As outras irmãs pouco aparecem, até que uma delas comete um ato transgressor, que só serve, na verdade, para interferir na história de Elizabeth e Darcy e render mais cenas com zumbis.
Entre um chá das cinco e um baile, as moças matam zumbis – transformados por uma epidemia que assola a Inglaterra. O fato de as irmãs Bennet terem treinado artes marciais na China – ao invés de no Japão, como toda moça elegante de sua época - é motivo de preconceitos na alta sociedade. Mas, é preciso admitir, elas são as melhores quando se trata de decapitar um morto-vivo antes que ele devore o cérebro de alguém.
Os caminhos tomados por Grahame-Smith e Burr Steers – que assinam o roteiro – para encaixar zumbis na trama de Austen são forçados. Causam graça pelo estranhamento inicial mas logo se perdem na repetição das cabeças rolando e nas idas e vindas dos casais apaixonados.
Steers tenta introduzir alguma densidade no filme tocando em questões sociais, quando os ricos conseguem proteger suas casas com fortificações e os pobres são abandonados ao próprio destino. A questão é que até isso soa deslocado. O problema não está em satirizar ou parodiar Austen – “As Patricinhas de Beverly Hills” e “O Diário de Bridget Jones” fizeram isso muito bem. O que acontece é que aqui nada é engraçado ou simpático, uma vez que não se encontra um equilíbrio entre o grotesco, o cômico e o romântico.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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