Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia pela segunda sessão consecutiva e era negociado no patamar de 3,15 reais nesta sexta-feira, após o Banco Central manter o ritmo mais intenso de intervenções no câmbio e o presidente interino Michel Temer demonstrar preocupação com a queda recente da moeda norte-americana.
O avanço era contido, porém, por expectativas de ingressos de recursos no Brasil e por apostas de que os juros norte-americanos não devem subir tão cedo após dados fracos nos Estados Unidos.
Às 11:15, o dólar avançava 0,58 por cento, a 3,1581 reais na venda, após subir 0,25 por cento na véspera. A moeda norte-americana havia recuado nas sete sessões anteriores, atingindo novas mínimas em mais de um ano.
O dólar futuro subia 0,33 por cento nesta manhã.
"A fala de Temer adicionou algum ruído ao mercado e deve deixar o dólar um pouco mais pressionado, pelo menos até que os fluxos de capital (para o Brasil) comecem a se materializar", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Temer afirmou que é preciso "manter um certo equilíbrio no câmbio" e ressaltou que figuras do setor corporativo discutiram o recuo recente da moeda norte-americana com ele. "Nem pode ter o dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido", disse.
Cotações baixas do dólar tendem a prejudicar a indústria ao encarecer exportações, enquanto cotações altas elevam os preços de insumos importados e podem contaminar a inflação.
As declarações vieram após o BC intensificar sua intervenção no câmbio na véspera, vendendo 15 mil swaps reversos --que equivalem a compra futura de dólares-- em vez dos costumeiros 10 mil, e manteve esse ritmo nesta manhã. [E6N1AL003]
Nesta manhã, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, repetiu que a instituição utilizará com parcimônia seus instrumentos cambiais e reiterou o compromisso com o câmbio flutuante.
"Houve uma 'intervenção verbal' da parte do Temer, que deve ser suficiente para segurar o dólar acima de 3,10 reais por algum tempo", disse o operador de uma corretora nacional, sob condição de anonimato.
Ainda assim, investidores continuavam no aguardo de fluxos de recursos no Brasil relacionados a operações corporativas recentes e ao renovado interesse em ativos brasileiros. Muitos esperam, porém, que esse movimento só ganhe força após a confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que deve acontecer no fim deste mês.
Além disso, expectativas de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, não volte a elevar os juros neste ano após uma série de dados mistos sobre a economia norte-americana davam suporte a ativos emergentes, que oferecem rendimentos elevados.
Nesta manhã, dados fracos sobre vendas no varejo e preços ao produtor levaram operadores a reduzirem ainda mais suas apostas em aumentos de juros nos EUA em 2016.
(Por Bruno Federowski)