SÃO PAULO (Reuters) - A comédia romântica é, provavelmente, um dos gêneros cinematográficos mais maltratados, em que diretores, roteiristas e produtores raramente saem da zona de conforto. Em geral, preferem uma fórmula fixa que, quase sempre, se resume a uma mulher que descobre que não pode viver sem um certo homem e precisa passar por cima de diferenças para chegar ao final feliz.
Essa premissa funcionava muito bem até certo tempo atrás, mas, de uns anos para cá, dá sinais de cansaço especialmente por conta das conquistas das mulheres.
“Um Namorado para Minha Mulher”, de Julia Rezende (“Ponte Aérea”, “Meu passado me Condena”), se coloca numa encruzilhada: como ser fiel à tradição mas também respirar os ares da mudança? A incapacidade do filme de sair desse dilema que ele mesmo cria talvez seja em si sua percepção do papel da mulher no mundo contemporâneo.
O roteiro, assinado por Julia e Lusa Silvestre, é baseado num filme argentino de 2008 bem ruim --sim, na Argentina também existem filmes ruins, embora parte da cinefilia nacional finja que não-- que ganha mais fôlego aqui especialmente com a presença de Ingrid Guimarães, como a mal-humorada Nena, mulher de Chico (Caco Ciocler), que está cansado da insatisfação dela.
Meio pamonha e sem muita iniciativa, ele é incentivado pelo amigo cafajeste (Marcos Veras, num papel parecido com o seu em “Entre Abelhas”) a arrumar um homem para seduzir sua mulher e fazer com que ela (ao invés dele mesmo) peça o divórcio.
Tudo se resolve rápido, e ele encontra um sujeito que atende pelo nome de Corvo (Domingos Montagner, em seu terceiro filme este ano), estranho e misterioso que começa a seduzir a mulher.
O que se segue então é o básico do gênero. Não é preciso ter visto o original ou nenhuma das refilmagens --já houve uma italiana, uma mexicana e uma sul-coreana-- para saber onde isso tudo vai parar.
A questão é: Nena é uma mulher interessante e inteligente que precisava apenas de um empurrãozinho para sair de casa (o marido lhe arruma um emprego com um amigo youtuber, interpretado por Paulo Vilhena), e descobrir que é muito mais do que aquela mulher ranzinza que passa o dia no sofá.
São necessários dois homens --o marido para arrumar um emprego e o “namorado” para lhe dar autoconfiança-- para levar Nena a sair da sua acomodação, a descobrir seu potencial (já que fica bem famosa com o programa na internet) e tornar-se uma pessoa mais feliz.
“Um Namorado para Minha mulher” explora essa possibilidade de sua protagonista alçar novos voos, sendo independente e tudo mais. Mas quando o filme cede às regras do gênero, às quais faria bem quebrar, reafirma que uma mulher precisa de um homem para chamar de seu para se sentir completa.
Ingrid Guimarães, também creditada como colaboradora no roteiro, dá um show com um papel que abre diversas possibilidades de humor e também de um drama leve. A primeira metade --com a Nena infeliz, mal-amada e mal-humorada-- é perspicaz em seu timing para a comédia, além de também comentário sobre o estado das coisas.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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