CARACAS (Reuters) - As ruas da Venezuela ficaram mais tranquilas do que o normal nesta terça-feira, mas muitos pontos comerciais abriram apesar de uma convocação da oposição para uma greve nacional em protesto contra medidas econômicas anunciadas pelo presidente socialista Nicolás Maduro.
Na segunda-feira, a Venezuela, que é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cortou cinco zeros da moeda local em reação à hiperinflação, parte de um conjunto amplo de medidas concebidas para lidar com a crise econômica, entre elas atrelar a moeda do país a uma criptomoeda estatal obscura.
Críticos da oposição atacaram o plano, que disseram ser inadequado frente a uma inflação que superou 82 mil por cento em julho, e clamaram por uma paralisação de um dia nas atividades comerciais.
"Não vão trabalhar, vocês têm o direito de protestar, porque o que está em jogo é sua vida, seu futuro e seu país. Rebelem-se!", escreveu o partido opositor Vontade Popular em sua conta de Twitter.
Maduro declarou feriado nacional na segunda-feira para bancos e consumidores se acostumarem com o novo esquema dos preços, segundo o qual itens que custavam 1 milhão de bolívares na semana passada passam a valer 10 bolívares.
A Fedecámaras, principal grupo empresarial da nação, rejeitou a proposta "incoerente", observando que o aumento planejado de 3 mil por cento do salário mínimo tornará impossível para as empresas e comércios manterem as portas abertas.
Mas o grupo não se posicionou diante da greve de iniciativa opositora, dizendo que cada membro deveria decidir por conta própria.
O Ministério da Informação não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
O governista Partido Socialista anunciou uma passeata na manhã desta terça-feira para apoiar as medidas econômicas de Maduro que deve terminar com um evento no palácio presidencial.
O colapso da economia antes florescente vem provocando doenças e fome e desencadeou um êxodo de migrantes para nações vizinhas.
Nos últimos dias Equador e Peru endureceram as exigências de visto para venezuelanos, e episódios de violência levaram centenas de imigrantes a cruzarem de volta a fronteira com o Brasil.
O descontentamento também se espalha entre os militares, já que os soldados estão tendo dificuldade para obter alimento suficiente e muitos desertam deixando o país.
Maduro diz que seu governo é vítima de uma "guerra econômica" liderada por opositores com a ajuda de Washington, que no ano passado impôs várias rodadas de sanções contra Caracas e autoridades de alto escalão.
(Por Brian Ellsworth)