Por Alexei Anishchuk
LAURA, Rússia (Reuters) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou os Estados Unidos nesta sexta-feira de colocarem em risco a segurança global ao impor um "decreto unilateral" sobre o mundo e culpou o Ocidente pela crise na Ucrânia.
Em um pronunciamento de 40 minutos que lembrou os tempos da Guerra Fria e destacou a profundidade da cisão entre Moscou e o Ocidente, Putin também negou estar buscando reerguer o império soviético às custas dos vizinhos da Rússia.
"Nós não começamos isto", disse Putin a um grupo informal de especialistas em Rússia, incluindo vários ocidentais críticos a ele, alertando que Washington estava tentando "redesenhar o mundo inteiro" baseado em seus próprios interesses.
"As declarações de que a Rússia está tentando reinstalar algum tipo de império, de que está violando a soberania de seus vizinhos, não têm fundamento", declarou o ex-espião da KGB em um discurso feito em um resort de esqui nas montanhas de Sochi, cidade junto ao Mar Negro que sediou a última Olimpíada de Inverno.
Listando uma série de conflitos nos quais viu equívocos nas ações norte-americanas, como na Líbia, Síria e Iraque, Putin indagou se as políticas de Washington fortaleceram a paz e a democracia.
"Não", afirmou. "O decreto unilateral e a imposição de conspirações (contra outros) têm exatamente o efeito oposto."
Putin, de 62 anos, acentuou a retórica antiocidental desde que voltou ao Kremlin como presidente em 2012, o que ajudou a aumentar sua taxa de aprovação desde a anexação da península ucraniana da Crimeia em março.
Mesmo assim, o discurso foi um dos mais hostis que Putin já fez contra o Ocidente, e pareceu, em parte, concebido para mostrar aos eleitores russos que ele irá encarar o resto do mundo e defender suas causas.
As críticas contra uma ordem mundial dominada por Washington, mais de duas décadas após o fim da Guerra Fria, lembraram uma fala de 2007 em Munique na qual Putin chocou o Ocidente ao repreender a visão de mundo "unipolar" de Washington. O comentário levou muitos líderes ocidentais a reverem sua ideia de Putin.
As reuniões anuais do que é conhecido como Clube Valdai poucas vezes foram palco de uma linguagem tão aberta, direta e ríspida nos debates sobre políticas russas.
Críticos dizem que os encontros se tornaram uma plataforma para as políticas do Kremlin. A sessão a que Putin comparece é transmitida ao vivo na televisão estatal, e pouco se discute o histórico do país em relação a direitos humanos e democracia, que o Ocidente reprova.
Rejeitando as críticas pelo papel russo na crise da Ucrânia, na qual Moscou se uniu aos separatistas, e repetindo acusações de que governos ocidentais ajudaram grupos pró-Ocidente a depor o ex-presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, em fevereiro, Putin disse: "Em vez de um diálogo difícil mas, ressalto, civilizado, realizaram um golpe de Estado. Levaram o país ao caos, à falência econômica e social e à guerra civil, com grandes perdas."
(Reportagem adicional de Lidia Kelly, Vladimir Soldatkin, Alexander Winning, Jason Bush e Gabriela Baczynska)