Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda de mais de 2 por cento nesta sexta-feira, a maior baixa em quase um ano, em meio a especulações eleitorais que levaram investidores a reduzirem as apostas na reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).
A moeda norte-americana caiu 2,26 por cento, a 2,4570 reais na venda, maior queda no fechamento desde 18 de novembro de 2013, quando recuou 2,30 por cento. Na véspera, fechou a 2,5137 reais, maior nível em mais de nove anos.
"O mercado não sabia o que fazer para se preparar para a eleição no domingo e acabou reagindo a qualquer boato que circulou", disse o operador de câmbio da corretora Intercam Glauber Romano, para quem a reação dos mercados às eleições, na segunda-feira, deve ser "intensa".
Segundo operadores ouvidos pela Reuters, circularam rumores entre as mesas financeiras de que supostas pesquisas de intenções de voto feitas por bancos teriam sinalizado que a presidente estaria empatada com Aécio Neves (PSDB), preferido dos mercados por prometer uma política econômica mais ortodoxa.
Conforme esses rumores ganharam força, a moeda norte-americana acelerou a queda frente ao real.
Durante toda a manhã, a queda do dólar ficou ao redor de 1 por cento, um pouco abaixo do patamar de 2,50 reais. Segundo operadores, os mercados já vinham se preparando para a reeleição de Dilma Rousseff e, por isso, pesquisas da véspera apontando esse cenário não tiveram grandes impactos nesta sessão.
Na quinta-feira, após o fechamento dos mercados, novas pesquisas de intenção de voto mostraram que Dilma abriu vantagem contra Aécio Neves (PSDB), fora da margem de erro. No levantamento do Datafolha, a atual presidente aparece 6 pontos percentuais acima do tucano, em votos válidos. Já no Ibope, a vantagem é de 8 pontos.
"O que aconteceu é que exageraram ontem", afirmou o estrategista da corretora Coinvalores Paulo Celso Nepomuceno.
Entre segunda e quinta-feira, o dólar havia acumulado alta de 3,34 por cento. Mesmo com a queda desta sexta-feira, a divisa ainda fechou a semana com alta de 1,01 por cento, levando operadores a afirmar que o mercado ainda precifica chance levemente majoritária de rreleição da atual presidente.
A baixa do dólar nesta sessão foi sustentada também por expectativas de que o BC mantenha seu programa de intervenções diárias no caso de reeleição de Dilma. Um governo Aécio, por outro lado, interromperia "imediatamente" os leilões diários, como já afirmou à Reuters o indicado pelo tucano ao Ministério da Fazenda, Armínio Fraga.
"É melhor estar comprado em real porque a Dilma vai fazer o BC intervir mais", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas rações diárias. Todos os contratos vendidos vencem em 1º de junho de 2015 e correspondem a 197,7 milhões de dólares. Também foram ofertados contratos para 1º de setembro de 2015, mas nenhum foi vendido.
O BC também vendeu a oferta total de até 8 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 3 de novembro. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 80 por cento do lote total, equivalente a 8,84 bilhões de dólares.
Alguns especialistas citaram ainda como causa para a queda do dólar nesta sessão reportagem publicada na edição desta semana da revista Veja, segundo a qual Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam conhecimento sobre o suposto esquema de desvio de dinheiro na Petrobras. De acordo com os operadores, a reportagem poderia afetar as intenções de voto da presidente.