Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - As estratégias do dois bancos comerciais controlados pelo governo federal se distanciaram no segundo trimestre, na esteira da piora na qualidade das suas carteiras após anos de crescimento acima da média do mercado.
O Banco do Brasil fez sua carteira de empréstimos se expandir 13,8 por cento em 12 meses até julho, abaixo do ritmo previsto para 2014, de 14 a 18 por cento, ao desacelerar linhas consideradas mais arriscadas, como consumo.
O ritmo foi próximo ao dos rivais Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, de 5 a 10 por cento, refletindo a baixa disposição dos bancos para amealhar novos negócios numa economia que cresce pouco pelo quarto ano seguido.
Já o estoque de financiamento do Caixa Econômica Federal avançou 28 por cento no mesmo período, acima da faixa prevista para o ano, de 22 a 24 por cento, puxado justamente pelas concessões para pessoa física.
Em comum, Caixa e BB registraram aumento da inadimplência medida pelo saldo das operações com mais de 90 dias em atraso, mas a disposição de cada um para seguir assumindo risco vai em rumos distintos, num momento de fraca atividade econômica do país.
O BB, cujo índice de calotes passou de 1,87 para 1,99 por cento em 12 meses, fez provisões para perdas com inadimplência 8,4 por cento maiores na comparação anual, em linha com o crescimento da carteira, com o banco reduzindo o financiamento para automóveis, um dos tipo e crédito que mais lhe deram dor de cabeça nos últimos anos.
"Temos foco em linhas como agronegócio e imobiliário", disse nesta quinta-feira a jornalistas o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, Ivan Monteiro, referindo-se a linhas mais seguras.
Analistas elogiaram o lucro recorrente do BB, que veio acima das expectativas. Na Bovespa, a ação do BB subiu 3,65 por cento, a maior alta do Ibovespa, que avançou 0,36 por cento.
Um dos pontos que agradaram o mercado foi o BB ter elevado a meta de rentabilidade sobre o patrimônio, da faixa de 12 a 15 por cento para a de 14 a 17 por cento em 2014. Junto com maiores margens financeiras, o dado fez investidores acreditarem que o banco se esforçará mais para elevar sua lucratividade.
"Isso elevou expectativas para o resto do ano", do ano, afirmaram em relatório os analistas do BTG Pactual liderados por Eduardo Rosman.
A Caixa, cujo índice de inadimplência no segundo trimestre subiu a 2,77 por cento, o pico em cinco anos, viu o movimento sob ótica diferente, considerando que ainda há espaço para assumir posição em carteiras mais arriscadas, que representam um percentual menor de sua carteira.
"Se a gente não crescer, a gente morre", disse à Reuters o vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival. Segundo ele, com maior base de crédito, o banco pode explorar maiores oportunidades de geração de receita com produtos financeiros.
No segundo trimestre, as provisões da Caixa para perdas com inadimplência dispararam 76,3 por cento. Com isso, o lucro do banco avançou apenas 2,7 por cento no trimestre, ante mesma etapa de 2013.
Após vários anos crescendo a carteira a um ritmo anual ao redor de 40 por cento, a Caixa tem buscado alternativas para reforçar seu índice de capital. O banco informou nesta quinta-feira que o Banco Central autorizou a instituição a converter cerca de 28 bilhões de reais de instrumentos híbridos em capital de nível 1, o que vai reforçar seu índice de Basileia.
(Com reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal)