Por Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Fator, especializado em empréstimos estruturados e consultoria financeira, vai deixar de receber e executar ordens de negociações de ações e derivativos diretamente de clientes institucionais, reduzindo operações de corretagem diante da contração dos mercados.
A mudança deve ajudar a liberar até 40 milhões de reais em exigências de capital, e apurar o foco da Fator Corretora no atendimento a private banking, home-broker e clientes de gestão de recursos, disse à Reuters Rodolfo Froes, que dirige a unidade, nesta segunda-feira.
As atividades de negociação de títulos públicos e renda fixa corporativa na Fator Corretora permanecerão inalteradas, acrescentou. O plano requer aprovação da BM&FBovespa (SA:BVMF3) e poderá acontecer em 60 dias.
A Fator Corretora é a mais recente vítima da crescente concentração do mercado de corretagem no país, em que os 10 maiores competidores controlam 70 por cento dos negócios. A crescente volatilidade e a menor atividade no mercado de ações e outros produtos financeiros provocaram anos de perdas para corretoras independentes, segundo dados recentes do Banco Central.
"Estamos tentando focar nos nossos próprios clientes, não nos de fora da empresa. Precisamos fortalecer retornos e achamos que isso pode nos ajudar", disse Froes.
O banco, que é controlado pelo executivo Walter Appel, está atualmente negociando com duas ou três corretoras não especificadas, que poderiam processar as ordens de ações e derivativos de clientes do banco, disse Froes.
Marco Bologna, que se tornou presidente-executivo do Banco Fator no ano passado, está tentando salvar a unidade, presente no mercado há meio século, e elevar retornos.
A equipe da corretora foi reduzida de 70 para 20 pessoas desde fevereiro, quando a unidade de pesquisa em ações e outras posições operacionais foram eliminadas.
Com a mudança, a Fator Corretora deixará de ter a licença de Participante de Negociação Pleno (PNP), passando a ter apenas a de Participante de Negociação (PN), mais restrita, que exige um terceiro para fazer ordens, executar e fazer clearing de transações com ações e derivativos diretamente com a bolsa.
As mudanças na Fator Corretora sugerem que Bologna pode ainda estar realizando uma reorganização mais profunda com a meta de reverter perdas e queda de participação de mercado.
Bologna, que atuou tempos no setor bancário e foi presidente da aérea TAM, ajudou o Banco Fator a voltar à lucratividade no segundo semestre do ano passado, focando em empréstimos estruturados, que têm retornos mais elevados.
Ainda assim, o banco, cuja divisão de banco de investimento atuou em muitas das vendas de ativos estatais no Brasil na década de 1990, perdeu 39 milhões de reais no ano passado.