Por Andre Romani e Patricia Vilas Boas
SÃO PAULO (Reuters) - Projeções de mercado apontam um aumento nas vendas da Black Friday brasileira de 2023, apesar de dados preliminares indicarem um início de mês menos aquecido no comércio eletrônico, principal canal de compras para a data promocional, que entra em seu período decisivo nesta sexta-feira.
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) projeta uma alta de 17% no faturamento do e-commerce, ajustado pela inflação, durante a semana da Black Friday em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Paralelamente, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima um crescimento real de 4,3% no faturamento do setor em novembro, atribuindo essa perspectiva à desaceleração da inflação e ao início do ciclo de queda de juros este ano.
"Há uma possibilidade de melhora dessa Black Friday em relação aos anos anteriores", disse Anna Carolina Gouveia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas. Mas ela acrescentou que, apesar de algum alívio em inflação e juros este ano, a incerteza econômica ainda pesa na decisão de compra.
Uma pesquisa da FGV Ibre mostrou que o percentual daqueles que disseram ter certeza de que irão comprar na Black Friday ficou praticamente estável este ano em relação a 2022, em cerca de 10%, enquanto a parcela de pessoas que afirmaram estar dispostas a adquirir produtos, a depender de preço e condição de pagamento, por exemplo, subiu de 14,4% para 21,7%.
Este ano, o ar-condicionado e o ventilador ganham destaque em meio às altas temperaturas em diversas regiões no país, principalmente no início de novembro. Os produtos estão entre termos mais buscados na plataforma do Mercado Livre (NASDAQ:MELI), disse a empresa de varejo online, que afirma ter vendido na véspera da Black Friday 4 mil ventiladores em apenas 20 minutos.
"Eventos associados a condições climáticas, como a temperatura, favorecem o crescimento impressionante (na procura) de ventiladores e ar-condicionado", disse Fernando Baialuna, diretor da área de consultoria na América Latina e de varejo da GfK.
Mas para Rodrigo Bandeira, vice-presidente nacional da ABComm, a tendência é que os descontos nesses produtos "sejam menores", dada não só a alta procura, mas também os impactos na fabricação e logística em função da estiagem em Manaus, onde está localizado o segundo maior polo fabricante de ar-condicionado do mundo, atrás apenas da China.
ECOMMERCE CAI NO INÍCIO DE NOVEMBRO
Contudo, há indícios de que o comércio eletrônico teve um desempenho mais fraco nas semanas que antecedem a Black Friday, período em que as empresas costumam antecipar promoções.
O Magazine Luiza (BVMF:MGLU3), que deriva grande parte de suas vendas de produtos eletroeletrônicos, reduziu no terceiro trimestre seu estoque em 500 milhões de reais em relação ao mesmo período de 2022, afirmou o diretor financeiro da companhia na semana passada.
Dados da Neotrust, empresa de pesquisa de mercado especializada em comércio eletrônico, mostraram uma queda no faturamento do segmento de 8,7% ano a ano, sem descontar inflação, em novembro até o dia 22.
Ainda assim, a empresa projeta avanço de 12% no pico da data promocional - de quinta-feira até domingo.
"No Brasil, cada vez faz menos sentido a gente carimbar Black Friday como a última sexta-feira do mês", disse Fábio Bentes, economista sênior da CNC.
Já a NielsenIQ Ebit, também focada em ecommerce, divulgou recuo nominal de 15,8% no faturamento das empresas nos primeiros 15 dias do mês frente ao mesmo período de 2022, puxado pelas categorias de telefonia, além de casa e decoração.
Os dados são relevantes porque quase 41% dos consumidores que têm a intenção de comprar na Black Friday pretendem utilizar apenas o meio eletrônico para isso, e mais 26,5% planejam usar lojas físicas e virtuais, de acordo com sondagem da FGV Ibre.
Baialuna, da GfK, que pertence ao mesmo grupo da NielsenIQ, apontou a possibilidade de um direcionamento maior dos consumidores para produtos de menor valor à medida que a melhora econômica ainda não foi suficiente para permitir aquisições de bens com preços mais elevados. No entanto, ele ressaltou que a data crucial para avaliação é esta sexta-feira.
Outras fontes, porém, mostram uma tendência contrária para o início de novembro. A adquirente Rede, do Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4), divulgou um avanço de 27% no faturamento nominal do ecommerce nos primeiros 15 dias de novembro. A Linx (BVMF:LINX3), empresa de software para varejo da StoneCo (NASDAQ:STNE), observou avanço de 12% na mesma base de comparação.
Independente do desempenho, Gouveia disse que o final do mês ainda é o principal momento usado para compras, o que torna os próximos dias decisivos para a Black Friday deste ano. "É quando os consumidores estão acompanhando os preços", disse ela.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)