Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que rejeitou a proposta apresentada pelo Ministério da Economia para criação do programa Renda Brasil porque ficou insatisfeito com os cortes de programas como o abono salarial para financiar o novo projeto, e disse que o texto não será enviado ao Congresso.
“Ontem discutimos a proposta, a possível proposta do Renda Brasil. Eu ontem falei: 'está suspenso'. Vamos voltar a conversar. A proposta como a equipe econômica apareceu para mim não será enviada ao Parlamento. Não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos", disse o presidente durante discurso em evento em Ipatinga (MG) para marcar a religação do Alto Forno 1 da Usiminas (SA:USIM5).
"Não podemos fazer isso aí. Como por exemplo, a questão do abono para quem ganha até dois salários mínimo. Seria, né, um 14º salário. Não podemos tirar isso de 12 milhões de pessoas para dar para um Bolsa Família ou um Renda Brasil, seja lá o que for o nome deste novo programa", acrescentou.
A fala do presidente, que revelou um desacordo com a equipe econômica, acelerou a alta do dólar a mais de 1%, chegando a 5,60 reais, e derrubou a Bolsa, levando o Ibovespa à mínima do dia, com queda de 1,87%. O mercado de juros futuros também disparou.
A proposta de criação do Renda Brasil está no pacote de medidas de aceleração da economia apresentadas ao presidente pelo ministro Paulo Guedes e previa um benefício maior que o valor atual do Bolsa Família, chegando a uma média de cerca de 250 reais por família.
No entanto, para financiá-lo a equipe econômica propôs o corte de outros programas sociais, como o abono salarial, o seguro-defeso e o Farmácia Popular, considerados ineficientes.
Bolsonaro, no entanto, não gostou do modelo, do valor nem dos cortes. De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, além de reclamar, como declarou, do corte de outros programas sociais, o presidente quer um valor ainda maior, perto dos 300 reais, ao que o ministro da Economia rebateu com a necessidade de que se então adote outros cortes, em outras programas, para que o Renda Brasil siga dentro do teto de gastos do governo.
A crítica pública de Bolsonaro à proposta, formulada pela equipe de Guedes e com a chancela do ministro, aumentou as incertezas no mercado sobre a agenda do governo para as contas públicas e o futuro do ministro Paulo Guedes no cargo.
Os ruídos entre Guedes e a ala desenvolvimentista do governo se intensificaram nas últimas semanas, causando saídas de importantes auxiliares do ministro da Economia e alimentando especulações sobre eventual substituição do chefe da pasta da Economia --com um dos nomes mais falados para seu lugar sendo o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Outra discussão que tem tensionado é a manutenção do auxílio emergencial criado durante a epidemia de Covid-19. Em seu discurso, Bolsonaro reafirmou que o benefício será mantido até dezembro.
"Sabemos que 600 reais é pouco para muitos, mas muito para um país se endividar. E como é emergencial tem que ter um ponto final. Resolvemos estendê-lo até dezembro, não será 200 ou 600 reais", disse o presidente.
Nesse caso, também o ministro da Economia defendia um valor mais baixo, de 200 reais. O presidente aceitou que não seja 600 reais mensais, o valor atual, que custa aos cofres públicos 50 bilhões de reais e é considerado inviável pela equipe econômica, mas quer mais que os 200 propostos por Guedes.