SÃO PAULO (Reuters) - A BRF (SA:BRFS3) vai começar neste mês o trabalho de venda de sua terceira marca de alimentos processados, apostando em um segmento com preço mais baixo para ajudar a elevar as margens do grupo por meio de ganhos de eficiência em sua operação.
A nova marca, chamada de Kidelli, vai ser vendida a redes de atacarejo e distribuidores independentes, devendo chegar às gôndolas entre o final deste mês e início de fevereiro.
A linha será independente das principais marcas da BRF, Sadia e Perdigão, e não terá verba para campanhas de mídia, disse o vice-presidente de operações do Brasil da companhia, Alexandre Almeida, a jornalistas.
"A nova marca nos permite usar de forma muito melhor nosso parque fabril... Isso permite que aumentemos nossa produção sem ter impacto nos projetos de Sadia e Perdigão", disse o executivo.
Os produtos da Kidelli serão produzidos em cinco das 29 fábricas da BRF no Brasil.
A empresa tinha anunciado intenção de ter uma terceira marca de processados, cujos produtos serão à base de aves e suínos, em agosto passado.
Almeida afirmou que a maior parte da produção da Kidelli vai usar "sobras de produção" das outras marcas da companhia que hoje são vendidas a terceiros no país ou exportadas. Com a agregação de valor gerada pela produção adicional de alimentos processados, a BRF espera elevar sua margem nos próximos meses, disse o executivo sem dar detalhes.
A nova marca vai atuar em segmento de mercado que trabalha com preços 15 por cento abaixo da média de marcas mais tradicionais como as atuais da BRF e de rivais como Seara, do grupo JBS (SA:JBSS3).
O objetivo do grupo é que a Kidelli tenha preços "competitivos nesse segmento", que compreende cerca de 30 por cento do mercado brasileiro de alimentos processados, disse Almeida.
Questionado se a BRF pretende elevar preços de suas outras marcas por conta do lançamento da Kidelli, Almeida disse que a nova marca não mudará o posicionamento atual dos preços de Sadia e Perdigão.
INVESTIMENTO
A Kidelli vai começar a operar com uma linha formada por 14 produtos, entre "presuntaria", empanados, mortadela, linguiças e hambúrguer, segmentos que são trabalhados por marcas regionais pelo país e também pela principal rival nacional, a Seara.
Almeida não revelou o investimento da BRF na Kidelli. Nos últimos três anos, a BRF investiu 560 milhões de reais em inovação e parte desse montante foi para o desenvolvimento da nova marca.
O lançamento da marca pela BRF ocorre em momento em que a economia brasileira se mantém em trajetória de crescimento, com vendas no varejo avançando acima que o esperado e registrando o melhor novembro em seis anos.
A iniciativa também começa a ser implementada com o início do trabalho do novo presidente-executivo da BRF, José Aurélio Drummond Jr., que assumiu o posto no lugar de Pedro Faria em 22 de dezembro.
Almeida rebateu afirmação de que a BRF está entrando "atrasada" no segmento de entrada, comentando que o grupo estava com atuação limitada no mercado brasileiro até meados do ano passado pelo acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que permitiu a criação do grupo no início da década.
"O lançamento de Kidelli é oportunidade de ampliar participação e voltar a atuar em segmento que as duas companhias originárias (Sadia e Perdigão) já trabalhavam e que pararam de atuar por causa das restrições do Cade", disse Almeida.
Segundo o executivo, o mercado brasileiro neste ano tem perspectiva de "crescimento saudável".
"As projeções do mercado são de crescimento mais forte do que em 2017, com desempenho melhor do que tivemos em 2015 e 2016", disse o executivo sem fazer projeções.
Ele, porém, comentou sem dar detalhes que em novembro a BRF atingiu "o maior volume vendido no mercado brasileiro".
As ações da BRF exibiam alta de 0,55 por cento às 14:01, cotadas a 39,92 por cento. O papel acumula queda de cerca de 10 por cento desde o final de outubro.
(Por Alberto Alerigi Jr. e Ana Mano)