Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - A Hedge Investments, uma gestora independente formada por ex-executivos do Credit Suisse, captou 220,8 milhões de reais em uma oferta pública de distribuição de cotas em fundos de fundos de investimento imobiliário no país, em mais um sinal positivo para o setor que se prepara para um ciclo prolongado de juros mais baixos.
O volume de recursos é mais de duas vezes superior aos 100 milhões de reais que os sócios da gestora pretendiam levantar em meados de junho do ano passado, quando informaram em entrevista à Reuters os planos de captação.
Essa demanda maior que a esperada reflete o atual cenário de juros mais baixos, que incentiva o investidor a sair da renda fixa e buscar outras opções para alocação de capital, explicou o sócio-fundador da Hedge Investments, André Freitas.
O Banco Central vem reduzindo sistematicamente a taxa Selic desde agosto de 2016, quando a mesma estava em 14,25 por cento ao ano. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária promoveu novo corte de 0,25 ponto percentual, levando os juros básicos para uma nova mínima de 6,50 por cento ao ano, além de indicar a possibilidade de mais uma redução em maio.
Além do efeito favorável da Selic mais baixa, Freitas ainda citou a evolução do ambiente regulatório para a indústria de fundos imobiliários, com as instruções 571 e 580 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2015 e 2016.
"Certamente veremos volume grande de ofertas...Esse mercado está começando a ganhar tração... Março está mais propício que fevereiro e janeiro estava mais que novembro", comentou Freitas, acrescentando que a maioria dos fundos imobiliários locais listados, conhecidos como FIIs, entregam, em média, dividendos em torno de 7 por cento.
Ao final de fevereiro, o número de investidores em fundos imobiliários cresceu 6,22 por cento sobre janeiro, para 133.610, e os 344 FIIs registrados na CVM bateram um valor de mercado de 39,3 bilhões de reais, de acordo com dados da B3.
Questionado se a disputa eleitoral poderia frear a expansão das ofertas, o sócio-fundador da Hedge Investments ressaltou que a volatilidade deve ser menor que no mercado de ações, cujo desempenho é ditado principalmente pelo investidor estrangeiro. "Nosso público é doméstico, não é o mesmo de um IPO", disse Freitas, destacando que os FIIs preveem isenção fiscal para o investidor pessoa física com menos de 10 por cento das cotas.
A Hedge Investments tem 1,75 bilhão reais em ativos sob gestão, dos quais 1,48 bilhão de reais alocados no setor imobiliário brasileiro. A estratégia para os 220,8 milhões de reais recentemente captados compreende uma gestão ativa e os recursos já foram investidos, contou o também sócio Alexandre Machado.
Embora a perspectiva para o mercado imobiliário como um todo seja de recuperação, a gestora avalia que alguns ativos devem largar na frente, incluindo o de prédios corporativos com classificação "AAA" na região da Faria Lima e da Berrini, onde já se observa um movimento "flight to quality".
Outros segmentos que possivelmente se destacarão são o de shopping centers consolidados, que já mostram recuperação nos indicadores de consumo, e o de galpões bem localizados, afirmou Freitas.
Ele também vê os fundos de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) como uma opção de investimento no curto prazo, já que não acompanharam a redução da Selic na mesma proporção.