Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O prêmio de risco do Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), tem oscilado em torno de mínimas em cinco anos, em patamares condizentes com os de países que ostentam grau de investimento, mas uma elevação da nota brasileira só deve ocorrer com a volta do crescimento econômico.
Estrategistas avaliam que fatores que justificaram a queda nessa percepção, incluindo as expectativas positivas para a reforma da Previdência e antecipação de pagamento de dívidas corporativas no exterior, já foram bastante precificados, o que incita a necessidade de evolução da atividade no país.
"Se não crescer pelo menos 2% ao ano (nos próximos anos), a dívida não estabiliza, e então a volta do grau de investimento é comprometida", avalia Ronaldo Patah, estrategista de investimentos da UBS Wealth Management.
Pesquisa Focus do Banco Central mais recente mostra expectativa no mercado de crescimento de 2,1% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.
Para Bernardo Zerbini, responsável pela estratégia da gestora AZ Quest, o governo tem uma agenda micro e macroeconômica na direção de um crescimento mais forte.
"No ano que vem deveremos crescer entre 2% e 2,5%, o que é um primeiro passo para que se possa nos próximos anos voltar a se pensar em superávit primário... Ainda que não geremos esse superávit na próxima década, a direção vale mais na hora de mudança de 'rating'", completa.
"Não acho que vamos recuperar o grau de investimento logo, mas uma melhora na nota de risco deve acontecer nos próximos meses", estima Zerbini.
Desde o começo do ano, o CDS de cinco anos --derivativo negociado no mercado a termo que funciona como proteção a investimentos com exposição ao risco de dívida do Brasil-- caiu de cerca de 205 pontos-base para ao redor de 127 pontos-base.
A queda de 38% do CDS em 2019 é a quarta maior em uma lista de dez países emergentes, ficando atrás apenas de Colômbia (-43,7%), Chile (-41,2%) e Indonésia (-39,5%).
Com o CDS na faixa de 127 pontos-base, o risco-país estaria mais alinhado ao de mercados com nota de crédito soberano na faixa de "BBB", já considerados grau de investimento, de acordo com estudo do MSCI. Mas o Brasil está na faixa de grau especulativo nas escalas das três principais agências de classificação de risco: "BB-" por Fitch e S&P e "Ba2" pela Moody's.
"O natural seria uma convergência para as medidas da América Latina, com avanço das reformas e volta do crescimento", avalia Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador da Novus Capital.
Para ele, contudo, o Brasil tem um longo caminho na melhora da nota, em particular para o grau investimento, com um primeiro passo sendo conquistar um risco-país menor do que o do México, que tem a classificação de bom pagador e CDS em 117,2 pontos-base.
Na América Latina, o CDS do Chile, país também com nota grau de investimentos, é o menor entre os principais mercados e ronda os 41,2 pontos-base.
Zerbini, da AZ Quest, argumenta que as agências de risco costumam estar "atrasadas" em relação às medidas de mercado. Nos últimos eventos de mudança de "rating" do país --seja para alta ou para queda--, o CDS precificou as alterações na maioria das vezes entre um e três meses antes dos anúncios pelas agências.
ALÉM DA REFORMA
Parte da melhora recente no prêmio de risco do Brasil é atribuída por agentes financeiros à perspectiva de interrupção da trajetória de piora da dívida brasileira, que fortaleceria a capacidade de pagamento do país e, portanto, reduziria a percepção de risco de calote local.
"A queda do CDS sem dúvida tem a ver com a melhora do fundamento fiscal, com investidores antecipando a aprovação da reforma da Previdência", reforça Patah.
Mas o movimento também refletiu a decisão de empresas de trocar dívida externa por doméstica e antecipar amortizações desses passivos, embaladas pela queda dos juros locais e dos spreads contra taxas no mercado internacional.
O saldo de títulos de dívida externa emitidos por empresas privadas caiu em junho para 110,9 bilhões de dólares, menor patamar desde fevereiro de 2018 (87,3 bilhões de dólares) e queda de 41% ante o pico de 188,6 bilhões de reais de agosto de 2018, segundo dados do Banco Central.
Ao mesmo tempo, o mercado de capitais brasileiro registrou captação de 164,9 bilhões de reais entre janeiro e junho de 2019, alta de 26,5% sobre o mesmo período do ano passado, conforme números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
"Esse fator técnico tem mexido com o CDS. Temos um ambiente de juros baixos no mundo, e isso reduz o risco de 'default'", acrescenta Portella.
Como derivativo que funciona como "hedge", o CDS tem seu preço alterado por questões de demanda e oferta. Com menor emissão de dívida externa, reduz-se a necessidade das companhias de montar "hedge" contra esses custos em moeda estrangeira. Com menor demanda por essa proteção, o custo do contrato cai, e essa queda é expressa pelo spread mais baixo do CDS.