RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) vai buscar ressarcimento de todos os recursos perdidos com corrupção, afirmou nesta quinta-feira o presidente da petroleira estatal, que defendeu a operação Lava Jato na cerimônia em Curitiba que marcou a devolução de mais 654 milhões de reais desviados da estatal.
Pedro Parente afirmou que, com o novo montante recuperado, a empresa já obteve de volta, desde 2015, cerca de 20 por cento das perdas apuradas em balanço por desvios relacionados à corrupção investigada pela Lava Jato.
A gestão anterior da Petrobras chegou a indicar que a empresa sofreu prejuízo de 6,2 bilhões de reais com o esquema de fraudes em contratos e propinas que atingiu a companhia. Com o montante devolvido nesta quinta-feira, a empresa informou que já recebeu ao todo 1,476 bilhão de reais.
Parente ressaltou que os valores recebidos nesta quinta-feira vão reduzir provisões registradas no balanço da empresa como perdas com corrupção e integrarão o resultado financeiro da petroleira como receita ou patrimônio líquido no atual exercício.
"Junto com a recuperação dos recursos que foram roubados da empresa pela quadrilha que lá operava, essa é talvez a forma mais contundente que a Petrobras tem de mostrar à sociedade brasileira que segue em frente no caminho ético, financeiramente equilibrado e capaz de contribuir para a recuperação da economia do nosso país", disse Parente, durante a cerimônia em Curitiba.
O valor devolvido agora, segundo o Ministério Público Federal, foi a maior quantia já recuperada em uma investigação criminal no país, fruto de acordos de colaboração e de leniência celebrados no âmbito da operação.
O executivo voltou a frisar que a empresa é "a principal vítima do que foi um gigantesco esquema de desvio de recursos públicos" no país e de destaque no cenário internacional, e declarou que os resultados das investigações "contribuem para país muito melhor".
EM DEFESA DA LAVA JATO
O presidente da Petrobras também demonstrou preocupação com o futuro da Lava Jato e falou em defesa dos investigadores.
"Não deixemos que o tempo decorrido desde o início da operação esmaeça a percepção dessa incomensurável contribuição, especialmente quando certos atores começam a propor iniciativas para tentar constranger os principais protagonistas dessa iniciativa", afirmou Parente, evitando dar detalhes.
Questionado posteriormente, durante coletiva de imprensa, se sua afirmação se referia ao presidente Michel Temer (PMDB), que pertence a um dos partidos envolvidos nas investigações criminosas, Parente negou.
"A minha referência não foi ao presidente Temer, foi a uma iniciativa recente de parlamentares de outro partido", disse o executivo, sem detalhar e frisando acreditar que o apoio que Temer está dando à Petrobras nenhum outro presidente deu.
Quando Parente foi indicado por Temer para a presidência da Petrobras, repetiu inúmeras vezes de que apenas aceitou o convite porque teve a garantia de que teria liberdade do governo para tomar decisões, uma antiga demanda de acionistas minoritários.
"A autonomia que o presidente Temer deu ao presidente da Petrobras é uma autonomia que nenhum outro presidente, pelo menos nas últimas décadas, teve", afirmou.
Parente declarou também que a empresa vem fazendo investimentos amplos para aprimorar a governança da empresa, além de executar programas socioambientais e de treinamento em ética e governança para parceiros do terceiro setor que atuam em projetos apoiados pela empresa.
(Por Marta Nogueira, no Rio de Janeiro; Reportagem adicional de José Roberto Gomes)