Macarena Vidal.
Pequim, 8 mar (EFE).- A China buscará neste ano aprofundar suas relações com a América Latina e, com este objetivo, o presidente Xi Jinping empreenderá sua segunda viagem pela região desde sua chegada ao poder.
Assim afirmou neste sábado o ministro chinês de Relações Exteriores, Wang Yi, em sua entrevista coletiva anual, que coincide com as sessões anuais da Assembleia Nacional do Povo, o Legislativo chinês, a data mais importante do calendário político do país.
Segundo explicou Wang, que utilizou para isso uma frase feita em mandarim, a relação entre América Latina e China é de "amigos muito próximos de países afastados", e Pequim quer se aprofundar cada vez mais nela.
Por isso, explicou, Xi Jinping viajará ao Brasil para participar da cúpula das potências emergentes Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que será realizada na cidade de Fortaleza.
Nessa aproveitará para visitar também outros países latino-americanos, antecipou o ministro. Será a segunda visita do presidente da China à região desde que assumiu a chefia de Estado há um ano.
Em junho de 2013, Xi visitou Costa Rica e México em seu primeiro tour pela região, no qual também se deslocou a Trinidad e Tobago e Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores chinês lembrou também que neste ano se realizará em seu país a primeira reunião ministerial entre China e os países da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos), após o acordo assinado entre ambas partes neste sentido.
Isso, assegurou, servirá para promover ainda mais as relações bilaterais. "Abrigo grandes esperanças sobre as relações entre China e América Latina", declarou o ministro.
Neste sentido, brincou que "tantas esperanças como as que sei que muitos torcedores sobre o desenvolvimento da Copa do Mundo no Brasil".
Desde que se completou a posse dos novos líderes chineses, Pequim não deixou de assinalar a importância que outorga à América Latina, uma região pujante economicamente e que reivindica cada vez com mais firmeza o lugar que lhe corresponde nas instituições globais, mas a troca comercial bilateral ainda se encontra abaixo de seu potencial.
Até agora, as exportações latino-americanas para a China se centraram principalmente nos setores agroalimentar e de matérias-primas, mas os países da região esperam diversificar esta oferta de modo que inclua cada vez mais bens de alto valor agregado e atrair cada vez mais investimentos chineses.
Xi já se reuniu com vários líderes latino-americanos, entre eles o mexicano Enrique Peña Nieto - com quem dialogou em três ocasiões em 2013 e que voltará este ano à China em visita de Estado -, o peruano Ollanta Humala, o uruguaio José Mujica e a costarriquenha Laura Chinchilla.
Igualmente recebeu em Pequim o venezuelano Nicolás Maduro e o boliviano Evo Morales, assim como ao vice-presidente Michel Temer.
De acordo com o jornal oficial chinês "China Daily", os investimentos chineses na América Latina representaram 13% do total em 2013 e alcançaram um volume de US$ 80 bilhões, boa parte deles destinadas a projetos de infraestrutura.
Segundo declarou recentemente a subdiretora do Departamento de Assuntos Americanos do Ministério de Comércio chinês, Xu Yingzhen, em um fórum de investimento chinês-latino-americano realizado em Cantão, a China se encontra especialmente interessada na nova política industrial brasileira, na reforma energética no México e nas zonas econômicas especiais cubanas.
Ao longo da próxima meia década espera-se que as empresas chinesas invistam em torno de US$ 500 bilhões no exterior, boa parte dos quais irão parar na América Latina, segundo o "China Daily".
Entre outros exemplos, a companhia elétrica chinesa PowerChina obteve recentemente o contrato para um projeto de transmissão elétrica no estado do Pará, avaliado em US$ 156 milhões.
O projeto de maiores dimensões, apesar de ser também o mais controvertido, é o adjudicado à empresa baseada em Hong Kong HKND, do milionário Wang Jing, para construir o canal da Nicarágua, com o qual esse país quer rivalizar com o Panamá na conexão do tráfego marítimo entre o Pacífico e o Atlântico.
Avaliado em US$ 40 bilhões, este projeto se encontra ainda em uma fase incipiente e se interpuseram pelo menos 29 recursos de inconstitucionalidade contra sua concessão, embora Wang Jing assegure que pretende começar as obras ainda neste ano.