A mudança de sinal de alta para queda nas cotações do petróleo no exterior fez o Ibovespa diminuir o ritmo de elevação, ficando um pouco distante da máxima diária de 115.896,30 pontos (aumento de 0,63%). No entanto, ainda indica disposição em buscar os 116 mil pontos, marca vista pela última vez no início da segunda quinzena de setembro de 2021 (116.312,22 pontos, máxima diária). Ao mesmo tempo, o dólar registra mínimas, caindo para a faixa de R$ 5,02.
Grosso modo, a valorização é puxada pelas blue chips ligadas a commodities e ao setor financeiro. "As coisas estão bem correlatas. O investidor estrangeiro está bem cauteloso com movimentação do petróleo. Há o debate de novas sanções dos EUA contra a Rússia e isso deve tangenciar as cotações da commodity. A questão energética é um ponto que ainda vai gerar muito debate, e isso beneficia o Brasil", avalia Pedro Tiezzi, analista de investimentos da SVN.
Investidores esperam novas informações sobre uma possível rodada de negociação entre Rússia e Ucrânia, com intuito de cessar-fogo.
"Apesar do movimento de aversão a risco gerado pelo conflito, a bolsa brasileira tem surfado um bom momento dado o aumento de preço das commodities após as sanções à Rússia, além do câmbio em patamares positivos para as empresas exportadoras", avalia em nota Antônio Sanches, especialista em investimentos da Rico.
Além disso, a visão de analistas de que o fluxo do exterior tende a continuar beneficiando o câmbio e a Bolsa brasileira, podendo aliviar um possível recuo do índice Bovespa. Neste sentido, a decisão da MSCI de eliminar ações russas do seu índice deve reforçar a expectativa de entrada de recursos externos. O indicador acompanha o desempenho dos mercados de 26 países emergentes.
"O fluxo de estrangeiro segue forte, com investimentos saindo de ações ligadas ao crescimento, como os de tecnologia e olhando mais para bancos", menciona Tiezzi, da SVN.
Porém, a incerteza em relação ao futuro da guerra e o encarecimento das matérias-primas têm colocado bancos centrais mundiais em alerta, dado que a inflação já vinha em aceleração antes mesmo de a guerra no Leste Europeu estourar. Com isso, o sobe-e-desce do Ibovespa tende a prosseguir.
Em situação "normal", o índice Bovespa poderia mirar a faixa dos 118 mil, 120 mil pontos, avalia o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, em comentário matinal. "Mas a volatilidade deve permanecer alta e com muita rotação de ativos por aqui", estima.
Na quarta, o Ibovespa fechou em alta de 1,80%, aos 115.173,61 pontos. Nesta manhã, o índice futuro da B3 (SA:B3SA3) segue na faixa 116 mil pontos. Este nível foi visto pela última vez no mercado à vista em 15 de setembro de 2021, quando a máxima diária marcou 116.312,22 pontos.
Às 11h02, o índice Bovespa tinha alta de 0,49%, aos 115.741,05 pontos.
PODCAST - Carteira: Como se defender da volatilidade gerada pelo conflito Ucrânia-Rússia
Diante da expectativa de diálogo entre o governo russo e ucraniano, as cotações do petróleo passaram a ceder para a faixa entre US$ 108 e US$ 111 o barril, após se aproximarem dos US$ 120 o barril, em meio aos desdobramentos da guerra russo-ucranina.
A despeito desse arrefecimento, prosseguem temores inflacionários. Na zona do euro, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) saltou 30,6% em janeiro ante igual mês de 2021, superando estimativas de 26,9%. Por isso, ficam no foco o Banco Central Europeu (BCE), que divulga sua ata sobre a última decisão sobre juros, e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Nesta quinta, o presidente Jerome Powell apresentará relatório de política monetária no Senado.
"Deve repetir os sinais de mais cautela na condução da política monetária após discurso ontem na Câmara. O BCE também dá sinais hoje. Portanto o foco continua sendo guerra, inflação e juros no mundo", avalia o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, em nota.
No Brasil, a LCA elevou sua estimativa para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) fechado em 2022, para 10,50%, por conta dos efeitos do evento bélico. "Os ventos adversos que sacodem os mercados internacionais devem ter impacto sobre a economia brasileira. A influência mais direta ocorre sobre os preços no atacado - especialmente aqueles que têm maior ligação com os preços internacionais.".