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Compra irregular de imóveis revela mercado negro de documentos na China

Publicado 05.02.2013, 12:47
Atualizado 05.02.2013, 13:14

Pequim, 5 fev (EFE).- Os casos revelados nos últimos dias sobre funcionários chineses que usaram identidades falsas para comprar dúzias - em alguns casos até centenas - de imóveis evidenciaram o mercado negro de documentos oficiais que existe na China.

O último caso foi do funcionário do Departamento de Segurança Pública de Lufeng (província de Cantão, sudeste) Zhao Haibin, que utilizou uma identidade falsa para adquirir 192 propriedades imobiliárias, segundo publicou nesta terça-feira o jornal cantonês Nanfang Daily.

De acordo com a publicação, apesar de ser um agente da ordem pública, Zhao contava com um documento de residência ("hukou") falso que o credenciava como empresário e residente na cidade de Shanwei.

As atividades imobiliárias de Zhao se estendiam por várias cidades da província cantonesa e chegavam até Chongqing, em Sichuan, no centro do país.

Zhao já tinha se desfeito de muitas das propriedades, que seu irmão se encarregou de pôr à venda depois da abertura de uma investigação sobre suas atividades, afirmou o jornal.

Este caso, apesar de ser extremo pelo número de imóveis adquiridos, não é o único.

Hoje foi divulgada a prisão de Gongo Aiai - ex-subdiretora do Banco Comercial Rural do Condado de Shenmu na província de Shaanxi - acusada de ter falsificado documentos e selos oficiais para comprar dezenas de imóveis em Pequim e outras cidades do país.

Segundo a agência oficial "Xinhua", que cita um porta-voz do governo de Shenmu, Gongo contava com quatro "hukou": além do seu real, mais dois de Shaanxi e outro de Pequim.

Com este último, adquiriu até 41 propriedades em algumas das regiões mais centrais e exclusivas da capital chinesa, avaliadas em cerca de 1 bilhão de iuanes (US$ 159 milhões).

Um "hukou" é uma permissão de residência interna, um documento único para cada cidadão chinês. Credenciar a residência mediante este documento é imprescindível para buscar trabalho, estudar ou comprar um imóvel.

O caso de Gongo não parece ser o único no banco em que trabalhava, pois na segunda-feira foi divulgado que outro alto cargo desta entidade, Yang Liping, participou da compra de 12 propriedades no nome de sua esposa, mediante o uso de documentos falsos.

Nos últimos dias foram divulgados vários casos similares em que funcionários falsificaram documentos para adquirirem um número de propriedades muito acima do compatível com seus salários oficiais.

Os casos receberam uma ampla cobertura na imprensa estatal chinesa, que destacaram como estes escândalos revelam a corrupção policial, num momento em que as novas autoridades chinesas lançaram uma campanha anticorrupção da qual ainda não se sabe qual será seu alcance real.

Assim, a "Xinhua" denunciou a existência de um grande "mercado negro" que envolve policiais corruptos e "hukous" falsificados.

Segundo um de seus repórteres, um documento falso pode ser comprado por uma quantia entre 30 e 50 mil iuanes (entre US$ 4.820 e US$ 8 mil) em delegacias do noroeste da China.

Três policiais de Shaanxi já foram suspensos de seus cargos por envolvimento com o caso de Gongo, pois algumas falsificações ocorreram sob sua jurisdição.

O incidente aumentou o controle das autoridades sobre as identidades "fantasma" e a corrupção desenfreada, além de aumentar a atenção sobre a distribuição desigual dos imóveis e a falta de supervisão sobre a propriedade.

O jornal "Beijing Times" questionou que, para os residentes normais, obter uma permissão de residência na cidade que desejam "é praticamente impossível, então como podem ser deixados de lado trâmites tão complicados e rígidos para beneficiar aos ricos e poderosos?"

Uma possível medida para solucionar o problema seria obrigar uma declaração de bens aos funcionários, um programa piloto proposto pela administração do Cantão que afetaria somente esta província.

Entretanto, o projeto recebeu críticas porque as informações divulgadas são extremamente limitadas e fazem referência apenas aos salários oficiais, sem incluir outras fontes de receitas e os bens de familiares próximos. EFE

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