Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A CPFL Energia (BVMF:CPFE3) enxerga uma tendência positiva para o consumo de energia elétrica até o fim do ano e está reforçando suas operações após os dois Estados onde o grupo atua, São Paulo e Rio Grande do Sul, terem sofrido com eventos climáticos extremos que prejudicaram fortemente o atendimento aos consumidores, disse à Reuters o CEO Gustavo Estrella.
A companhia integrada de energia divulgou nesta quinta-feira que obteve um lucro líquido de 1,3 bilhão de reais no terceiro trimestre, 7,5% menor se comparado a igual período de 2022.
Embora o Ebitda tenha aumentado 5,6% no período, a 3,1 bilhões de reais, a última linha do balanço acabou sendo impactada pela elevação de mais de 40% da despesa financeira líquida com impacto da inflação sobre o custo da dívida.
As quatro distribuidoras da CPFL, que atendem o interior e litoral de São Paulo e o Rio Grande do Sul, viram no último trimestre crescimentos importantes do consumo nas classes residencial e comercial (5,1% e 2,9%, respectivamente, no consolidado).
Segundo Estrella, a expectativa é de que essa tendência permaneça até o final do ano, em virtude das elevadas temperaturas --que aumentam o uso de aparelho de refrigeração, com impacto na carga-- e da melhora da renda. Esses efeitos, disse ele, devem compensar um desempenho ainda morno do consumo industrial.
Apesar do cenário positivo, ele destacou que a companhia está atenta e se preparando para a possibilidade de ocorrência de novos eventos climáticos severos, como o da última sexta-feira no Estado de São Paulo, que chegou a deixar sem energia 10% de sua base total de clientes.
As três concessionárias da CPFL em São Paulo atendem grandes cidades como Campinas, Ribeirão Preto e Santos. Em setembro, a distribuidora gaúcha do grupo também sofreu com o ciclone extratropical no Rio Grande do Sul, que causou grandes enchentes e destruiu cidades.
"A gente está falando (sobre São Paulo) do pior evento climático que a gente teve na nossa área de concessão nos últimos 15 anos e talvez um dos piores da história", disse Estrella, ressaltando que os fortes ventos imprevistos levaram à queda de 1,5 mil árvores sobre a rede elétrica da companhia na ocasião.
"Na região da baixada santista, a gente chegou a ter ventos de 151 km por hora... Chegamos a ter 1 milhão de clientes desligados no pico da crise na sexta-feira. Em 12 horas, eu já tinha 70% dos meus clientes já reconectados", afirmou, dizendo que agora os serviços estão normalizados para todos os que foram afetados.
O executivo destacou que os investimentos bilionários realizados para robustecer a rede elétrica e torná-la mais automatizada ajudaram no processo de recomposição dos serviços, mas afirmou que são necessários avanços em outras frentes para mitigar os impactos de eventos naturais como esse.
Como exemplo, citou um projeto da CPFL junto a prefeituras que propõe a troca de árvores de grande porte próximas da rede por árvores de menor porte, além do replantio em locais mais distantes.
"Cada árvore que a gente tira da rede, a gente planta cinco... É um programa que tem muita resistência, mas é necessário, para identificar quais são as regiões mais críticas e quais são as árvores que trazem risco iminente para a rede".
CENÁRIO PARA GERAÇÃO
Já no segmento de geração, o cenário traçado pela companhia é mais negativo, devido ao menor volume de despacho de usinas eólicas por restrições operativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O operador nacional passou a limitar os envios de energia renovável gerada no Nordeste para os centros de carga do Sudeste após um apagão de grande escala ocorrido em agosto que afetou todo o país, com exceção de Roraima, que não integra o Sistema Interligado Nacional.
"Os impactos maiores já foram, mas nada impede de que eles voltem a aumentar a restrição em algum momento. Essa falta de clareza sobre as regra do jogo é que nos preocupa", explicou Estrella.
(Por Letícia Fucuchima)