Saud Abu Ramadan.
Gaza/Ramala, 29 jul (EFE).- A crise financeira palestina e a recessão econômica reduziram ao mínimo as compras efetuadas no Ramadã, enquanto os mercados e comércios das cidades de Gaza e Ramala expõem seus melhores produtos e mercadorias.
Funcionário do governo do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, Abu Mohammed Shabat, de 42 anos, decidiu diminuir sua lista de compras para economizar dinheiro para alguma possível emergência.
"Só gastei US$ 70 em produtos básicos para o Ramadã, como farinha, azeite, queijos, verduras e frutas. Neste ano, não vou poder comprar outros produtos necessários, como tâmaras, frutas secos e sobremesas", explicou.
Os dois governos dos territórios palestinos - o da Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia, e o do Hamas, em Gaza,- atravessam uma crise financeira que, inclusive, impede parte do pagamento dos salários de seus 185 mil empregados.
Esta situação provocada pela recessão econômica também se refletiu nos mercados palestinos, onde os vendedores e comerciantes, ao contrário de outros anos, possuem uma grande quantidade de produtos para oferecer.
"Estamos pensando em vender nossa mercadoria para recuperar o capital investido e, somente depois, poderemos pensar nos lucros", afirmou Luay Murtaja, que possui uma pequena loja no mercado da capital de Gaza.
Luay se queixa que "as pessoas só estão comprando o básico", um comportamento que acaba afetando seu negócio.
Assim como os demais muçulmanos no mundo todo, os palestinos jejuam quase 15 horas durante os 30 dias do Ramadã, onde também não bebem e não fumam. Durante esse período, fazem somente duas grandes refeições: uma ao cair o sol e outra ao amanhecer.
As dificuldades para realizar esse jejum em plena crise também se somam a outros fatores que influem diretamente no estado de ânimo geral da população.
Desta forma, a decisão da ONU de reduzir a assistência financeira aos refugiados palestinos e a escassez de combustível e eletricidade na paupérrima Gaza, onde vivem 1,5 milhões de pessoas, deterioraram consideravelmente a situação.
Nael Musa, professor de Ciências Econômicas na Universidade Al Najah de Nablus, explica que o déficit fiscal da ANP também causou impacto no comércio antes do Ramadã.
Os economistas destacam que o volume de negócio nos mercados na Cisjordânia e Gaza se encontram limitados porque a economia segue se deteriorando, enquanto as taxas de desemprego e a pobreza aumentam cada vez mais.
Samer Mohammed, morador da cidade cisjordaniana de Ramala, espera que 60% do salário que recebeu no final de junho sejam suficientes para poder comprar os tradicionais produtos deste mês.
Sobre a possibilidade de receber os outros 40% de seu salário, Mohammed não se mostra muito confiante: "Não sei se vou receber salário neste mês de julho".
Segundo dados oficiais, a crise orçamentária na ANP, que tem o compromisso de pagar 150 mil empregados, supera US$ 1 bilhão.
O último atraso no pagamento de seus empregados foi resolvido parcialmente graças a uma contribuição da Arábia Saudita à ANP para que pudesse realizar o pagamento dos 40% restantes.
Por causa deste fato, Mohammed, assim como a maioria dos funcionários da ANP na Cisjordânia e Gaza, decidiu reduzir suas compras.
"Minha mulher geralmente faz a lista de compras, mas neste Ramadã não consegui seguir suas indicações e comprei o que pude", lamentou Mohammed ao transitar pelo mercado de Ramala.
"Neste ano, pelo fato dos salários serem pagos em duas fases, reduzimos as despesas porque tememos o fato de não receber nos meses de julho e agosto", contou Samir al Khatib, outro funcionário público na Cisjordânia.
A ANP vivencia há anos uma crise orçamentária, em grande parte, por causa da falta de pagamento dos compromissos assumidos pelos países doadores, em particular os árabes.
A situação econômica fez com que, pela primeira vez em anos, as cenas de pouco consumo fossem similares nos mercados de Ramala e de Gaza. EFE
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