Por Laila Bassam e Maya Gebeily
BAABDA, Líbano (Reuters) - De saída do cargo, o presidente libanês, Michel Aoun, disse à Reuters neste sábado que seu país pode estar entrando em um "caos constitucional", com uma situação sem precedentes de ter ninguém na linha de sucessão para substituí-lo.
Aoun deve deixar o palácio presidencial no próximo domingo, um dia antes de seu mandato de seis anos terminar, mas quatro sessões de um parlamento dividido não conseguiram chegar a um consenso sobre um candidato para sucedê-lo.
Aoun afirmou em entrevista que uma medida política de última hora para lidar com a crise constitucional pode ser possível, mas acrescentou que "não há uma decisão final" sobre o que poderia ser.
A presidência de Aoun está inexoravelmente relacionada na cabeça de muitos libaneses aos piores dias do país desde a guerra civil de 1975-1990, com uma crise financeira que começou em 2019 e a explosão fatal no porto de Beirute, em 2020.
Nos dias após a explosão, Aoun disse que havia recebido um relatório sobre as cerca de 2.700 toneladas de nitrato de amônio armazenados no porto de Beirute semanas antes de elas detonarem, matando 220 pessoas.
Ele não comentou sobre a explosão na entrevista.
O genro de Aoun, Gebran Bassil, que foi colocado em uma lista de sanções dos Estados Unidos em 2020 por suposta corrupção, tem ambições presidenciais, segundo fontes políticas.
Bassil negou as alegações de corrupção, e Aoun afirmou neste sábado que as sanções não impediriam Bassil de eventualmente ser candidato à presidência.
"Se ele for eleito (presidente), as sanções desaparecerão", disse Aoun, sem mais detalhes.
Em sua última semana como presidente, Aoun assinou um acordo mediado pelos EUA delineando a fronteira marítima do Líbano ao sul com Israel - um avanço diplomático modesto que permite aos dois países extraírem gás natural de depósitos marítimos.
Ele afirmou que o grupo armado apoiado pelo Irã, Hezbollah, que usou drones não-armados para sobrevoar Israel e ameaçou atacar suas plataformas offshore várias vezes, serviu de "dissuasão" que ajudou a manter as negociações a favor do Líbano.
"Não foi coordenado (com o Governo). Foi uma iniciativa tomada pelo Hezbollah e foi útil", disse Aoun, acrescentando que o Exército libanês "não teve papel" nessa situação.
Ele afirmou que o acordo abre o caminho para descobertas de gás que podem ser "a última chance" de o Líbano se recuperar de um derretimento financeiro de três anos que custou 95% do valor da sua moeda e levou 80% da população à pobreza.
O Líbano tem feito progresso lento em uma lista de reformas exigidas para ter acesso a três bilhões de dólares em financiamento do Fundo Monetário Internacional.
Aoun afirmou que continuará envolvido na política do Líbano, mesmo deixando o cargo, especialmente para enfrentar o governador do Banco Central, Riad Salameh, um dos principais adversários políticos do presidente.
Salameh está sendo investigado no Líbano e em pelo menos cinco outros países, acusado de corrupção e desvios de dinheiro público. Ele nega as denúncias.