Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - As ações de empresas do setor elétrico eram algumas das mais penalizadas da B3 (SA:B3SA3) nesta segunda-feira (22) após o comentário do presidente Jair Bolsonaro de que irá “meter o dedo” nas tarifas de energia, o que, segundo analistas ouvidos pelo Investing.com, remete a movimentações do governo da ex-presidente Dilma Rousseff em 2012.
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Perto das 14h20, o Índice de Energia Elétrica da bolsa brasileira, que mede o desempenho de uma carteira teórica no setor, caía 4,08%, em linha com o recuo de 4,94% do Ibovespa, em dia de total aversão ao risco por receios de uma guinada populista do governo Bolsonaro.
Para Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, os comentários do presidente sobre possíveis intervenções nas tarifas de energia elétrica são preocupantes não só para as estatais, mas também para o setor como um todo.
“O setor de energia elétrica sofreu bastante no governo Dilma porque o grande problema de controlar as tarifas vem na sequência, com queda dos investimentos e encarecimento das contas”, explica.
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Segundo ele, o atual sistema é menos vulnerável a interferências do que na época do governo Rousseff, mas mudanças pontuais nos preços cobrados pelas empresas reguladas pela Agência Nacional de Energia Elétrica ou uma interferência no fundo setorial trazem mais risco para o setor.
No início deste mês, um estudo conduzido pelo Serviço para Estimativa de Tarifas de Energia, da TR Soluções, projetou que as tarifas residenciais de energia podem ter um aumento médio de 14,5% em 2021.
Canetada?
Para Luis Sale, estrategista-chefe da Guide Investimentos, os comentários colocam dúvidas também para as distribuidoras privadas, que dependem de normas da Aneel para determinar os preços.
“Remete muito ao que aconteceu com Dilma, quando mudou as regras do setor elétrico. Esse comentário vem à tona em meio ao IGP-M mais alto, com um risco agora de que esse reajuste das tarifas possa não acontecer”, aponta.
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Em 2012, Rousseff aprovou a MP 579, que impôs uma queda na tarifa de energia, mesmo com uma elevação dos custos na época. Naquele ano, a Eletrobras (SA:ELET3) fechou dezembro com prejuízo de R$ 6,8 bilhões, o primeiro desde 1995, e seguiu fortemente afetada pela queda nas contas de luz.
“Não está muito claro o que ‘meter o dedo’ significa. Há uma previsão de alta da energia elétrica, mas não dá para saber direito que decisão será tomada a partir disso, e mercado gosta de previsibilidade", diz Murilo Breder, analista da Easynvest.
Para ele, apesar da empresa ainda pagar dividendos elevados, a falta de visibilidade, impulsionada já em janeiro com o anúncio da saída do presidente Wilson Ferreira Jr., tira grande parte da atração do papel.