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Economia é o novo desafio do governo islamita do Egito

Publicado 18.01.2013, 10:00

Belém Delgado.

Cairo, 18 jan (EFE).- Se a transição política foi o principal assunto dos egípcios desde a queda do presidente Hosni Mubarak, os preocupantes números da economia do país tornaram a questão outro grande desafio para o governo islamita.

Dois anos após os revolucionários levarem para as ruas suas demandas na forma de palavras de ordem como o recorrente "pão, liberdade e justiça social", a ansiada melhora econômica não ocorreu e diversos sinais de alarme já foram dados.

A brusca queda para mínimos históricos do valor da moeda local em relação ao dólar, cotado a cerca de 6,5 libras egípcias (quase 8% a mais que há duas semanas), levou muitos cidadãos a transferirem suas economias para dólares por medo de uma maior desvalorização.

Isso explica porque há poucos dias era uma missão quase impossível encontrar a cobiçada moeda americana no Egito, onde sua venda foi restringida.

Ahmed Abdel Salam, funcionário de uma casa de câmbio no bairro de Zamalek, no Cairo, não esconde seu pessimismo.

"A libra não deixa de cair e não vejo nenhum indício de que vá subir. Tivemos escassez de dólares por momentos porque as pessoas não param de comprar", disse à Agencia Efe Abdel Salam, para quem "ninguém pode fazer nada para regular a situação".

Estes locais já começaram a aplicar uma comissão de 1% na venda de moeda estrangeira, de acordo com as instruções do Banco Central Egípcio, cujo presidente, Farouk al Oqda, que anunciou na semana passada sua renúncia, será substituído pelo até agora diretor do Banco Internacional Comercial, Hisham Ramiz.

Além disso, foi limitada a retirada de dólares e introduzido um sistema de leilões para os bancos. Com as reservas internacionais em um nível "crítico", depois de o órgão supervisor injetar cerca de US$ 21 bilhões no sistema em dois anos, a libra egípcia segue sem chegar ao fundo do poço, o que com o tempo pode disparar a inflação, que foi de 7,5% anual em 2012.

Logo após deixar um emprego em uma casa de câmbio, Ahmed Mahmoud, que trabalha agora na exportação de produtos aos Emirados Árabes Unidos, comenta, enquanto olha o valor de uma calça em uma vitrine, que "há muita volatilidade nos preços e a situação é delicada".

As palavras do governo, que nega que a economia esteja quebrando, apesar da queda no turismo e em outros setores, não são suficientes para tranquilizar Mahmoud, que vê no exterior uma possibilidade de ajuda.

Na semana passada, o Catar elevou para US$ 5 bilhões sua ajuda ao Egito. Além disso, as autoridades egípcias retomaram as conversas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um empréstimo de US$ 4,8 bilhões.

O porta-voz de economia do governante Partido Liberdade e Justiça (braço político da Irmandade Muçulmana), Mohammed Guda, afirmou à Efe que faltam "medidas rotineiras" para a assinatura do acordo.

O principal obstáculo, explicou o dirigente do partido, é a polêmica reforma tributária e dos subsídios, um pedido do FMI que ficou em suspenso no mês passado devido ao referendo constitucional.

Após a resistência inicial, o governo do presidente egípcio, Mohammed Mursi, resiste em empreender a nova proposta, que prevê reduzir o grande déficit fiscal e eliminar os subsídios aos combustíveis e outros produtos básicos para os mais ricos, melhorando seu acesso entre os mais pobres.

"O futuro da libra egípcia dependerá em grande parte da aprovação do empréstimo do FMI, que pode encorajar outros países a enviar dinheiro ao Egito", sustentou Magdi Sobhi, pesquisador do Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos.

Na sua opinião, a instabilidade política, com uma oposição pronta para se manifestar em eleições parlamentares previstas para os próximos meses, torna difícil o Executivo iniciar medidas impopulares como a alta de impostos.

Mas o tempo se esgota para o governo do primeiro-ministro, Hisham Qandil, que realizou uma remodelação com dez novos ministros, entre eles o de Finanças, Mursi Higazi.

Este professor universitário próximo das teses econômicas dos islamitas é "acadêmico" demais para um país que, segundo Sobhi, requer um ministro de perfil político nesta época de crise.

E enquanto a crise aumenta, a bolsa egípcia registrou nas últimas semanas alguns lucros, e todos esperam que depois da tempestade venha a bonança. EFE

bds/dk/ma

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