Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A Energisa (SA:ENGI4), que venceu o leilão de privatização das distribuidoras da Eletrobras (SA:ELET3) no Acre e em Rondônia, avalia que as empresas estão "sucateadas" e exigirão cerca de três anos de trabalho para serem levadas à "normalidade", disse à Reuters o presidente da companhia, Ricardo Botelho.
A empresa assumiu na terça-feira as operações da Ceron, em Rondônia, enquanto a transferência do controle da Eletroacre é esperada até dezembro. As elétricas foram vendidas pela Eletrobras em meio a um plano de reestruturação que passa pela total saída da estatal do setor de distribuição, onde acumulou perdas bilionárias nos últimos anos.
A Energisa pagou pela Ceron e pela Eletroacre um total de apenas cerca de 100 mil reais, mas as regras da licitação das companhias preveem obrigações de aportes milionários e a transferência de parte do endividamento para o comprador.
Na Ceron, a Energisa já aportou 254 milhões de reais, em uma capitalização que poderá alcançar 282 milhões, e ainda anunciou um investimento de 470 milhões de reais para 2019, mais que o dobro dos aportes da distribuidora em 2017.
Além disso, ela ficou responsável por quitar no curto prazo cerca de 1,2 bilhão de reais em dívidas da elétrica, principalmente débitos junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
"É engraçado, mas esse preço que a gente está pagando, de 50 mil reais (cada empresa), ele é altamente caro... Nós estimamos que para regularizar as empresas demore no mínimo três anos. Essa é a expectativa agora, sanear financeiramente, acertar essas questões de dívidas e começar a investir", afirmou Botelho.
O executivo disse que os aportes envolvem desde a aquisição de ativos básicos, como veículos e compras de sistemas computacionais de gestão, até equipamentos e investimentos nas redes elétricas.
"A empresa está sucateada... Tem uma demanda reprimida bastante grande que não está sendo atendida por falta de investimento desses anos anteriores. Colocar a empresa de pé de novo, trabalhar para garantir que volte à normalidade, é nosso objetivo no momento", disse.
Ele destacou, no entanto, que a Energisa espera contar com o "expertise" adquirido após o sucesso na recuperação de empresas compradas em 2014 junto à Rede Energia, grupo privado que teve dificuldades financeiras.
A Energisa ficou na época com oito distribuidoras do Grupo Rede, que ainda negociou uma empresa com a Equatorial Energia (SA:EQTL3).
"Foram medidas que demoraram até quatro anos. Mas nunca tínhamos feito... Dessa vez, a gente acha que em três anos consegue... A situação é diferente, mais complexa também. Eram muito mais empresas, empresas bem maiores, mas eram empresas privadas, já tinham uma gestão privada", explicou Botelho.
A Ceron foi a quarta pior distribuidora em 2017 em um ranking de qualidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para empresas com mais de 400 mil clientes. A Eletroacre foi a terceira pior na lista de empresas de menor porte.
DÍVIDAS NA CCEE
A Energisa apresentou uma proposta à Aneel para pagar quase 1 bilhão de reais em dívidas da Ceron junto à CCEE com cerca de 770 milhões de reais à vista, referentes ao principal acumulado do débito, e mais cerca de 156 milhões em 12 parcelas atualizadas pelo IGP-M.
O regulador, no entanto, decidiu nesta semana autorizar o parcelamento em até 6 vezes, e com atualização por IGP-M e mais juros de mora de 1 por cento ao mês.
A negociação final sobre o parcelamento, no entanto, deverá ser realizada junto ao Conselho de Administração da CCEE.
Segundo Botelho, a Energisa ainda avalia como conduzir as negociações.
"Ficou muito caro... Estamos analisando as opções que temos nesse caso. Não é exatamente isso que a gente imaginava, precisaria de um pouco mais de tempo e um custo menor... É difícil você chegar lá e resolver tudo ao mesmo tempo, colocando montanhas de dinheiro para receber lá na frente", disse.
OUTRAS DISTRIBUIDORAS
O presidente da Energisa afirmou também que a empresa não descarta participar de um futuro leilão da distribuidora de energia da Eletrobras no Alagoas, a Ceal, cuja venda está travada por uma decisão judicial que o governo tem tentado derrubar.
Além da Ceal, a Eletrobras ainda busca negociar a Amazonas Energia, cuja licitação foi recentemente postergada para 27 de novembro.
"Da Amazonas, a gente definitivamente está fora. A gente não analisou essa empresa, não estudou, por razões diversas... Com relação à Ceal, depende muito do que pode vir... Estamos aguardando o desenrolar. Podemos avaliar", afirmou.
A empresa do Alagoas é considerada por especialistas como uma das mais atrativas da Eletrobras para investidores, e está no radar de diversos grupos do setor.
(Por Luciano Costa)