Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal manterá seu cronograma para venda de ativos mesmo com um possível atraso na tramitação da reforma da Previdência, disse nesta quarta-feira o presidente-executivo do banco estatal, Pedro Guimarães.
Segundo ele, a decisão sobre o melhor momento para venda leva em conta mais fatores do que apenas o andamento da reforma, como a conjuntura dos mercados globais e a economia dos Estados Unidos e da China.
"Há também o risco de esperar muito, não posso esperar por uma questão só", afirmou Guimarães em entrevista nos escritórios da Caixa, em São Paulo. Ele prevê levantar ao menos 40 bilhões de reais até o fim de 2020 com a vendas de ativos, recursos que serão usados sobretudo para devolver o mesmo montante recebido do governo via instrumento híbrido de capital e dívida (IHCD).
Os desinvestimentos incluem a venda de participação em quatro subsidiárias (seguros, loterias, cartões e gestão de recursos), que devem acontecer a partir de setembro, disse.
Além disso, a Caixa vai desinvestir de vários negócios detidos por meio da Caixapar, seu braço de participações, que inclui 32,8 por cento do Banco Pan (SA:BPAN4) e fatias minoritárias da adquirente Cielo (SA:CIEL3) e das empresas de serviços Capgemini e Tecban.
"Em boa parte deles, vai ser um 'stop loss'", disse o executivo refererindo-se ao jargão de mercado para classificar a venda de ativos com prejuízo.
O banco ainda vai se desfazer de vários imóveis próprios, dentro do plano de otimizar seus ativos e reduzir custos. Vários edifícios administrativos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília serão alienados, o que ajudará a economizar 3,5 bilhões de reais entre 2019 e 2020.
O plano para as ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) será aberto com a Caixa Seguridade, em setembro, processo que será precedido de parcerias com ao menos três sócios para diferentes áreas do negócio de seguros da Caixa.
Os preparativos para o IPO do braço de loterias, incluindo contratação do pool de bancos, também estão adiantados e a operação deve também acontecer em 2019. Os demais IPOs devem chegar ao mercado no ano que vem.
"Meu prazo é de quatro anos para devolver, mas tenho convicção de que faremos isso em dois anos", disse Guimarães à Reuters, referindo-se aos instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD) por meio do qual o governo federal injetou recursos no banco na última década.
As declarações de Guimarães contrastam com reveses recentes de empresas que planejavam estrear na bolsa, incluindo Banco BMG e a locadora de veículos pesados Vamos, que desistiram de seus IPOs devido às condições adversas do mercado.
Para enfatizar sua leitura de que há apetite no mercado para bons ativos, Guimarães revelou que a Caixa não só levará adiante os IPOs de suas subsidiárias como está participando como coordenador de outras três operações no mercado.
SEGUROS E CARTÕES
No caso da Caixa Seguridade, que já teve o IPO adiado duas vezes também por más condições de mercado, a estreia na bolsa será precedida de parcerias que valerão após o fim do acordo de gestão conjunta com a francesa CNP Assurance, válido até janeiro de 2021.
A Caixa abre na semana que vem processo para busca de parceiros nos segmentos de seguros incluindo para as áreas habitacional e de veículos. A Caixa fechou no ano passado com a CNP para renovar parceria nas áreas de vida e previdência.
"Depois devemos definir que fatia da Caixa Seguridade será vendida de uma vez já no IPO da Caixa Seguridade, se 30 ou 51 por cento", adicionou o executivo.
Quase simultaneamente, o banco usará o mesmo mecanismo de RFP (request for proposal) para busca de um sócio em adquirência. Segundo Guimarães, a Caixa errou ao não ter entrado com força nesse setor antes, mas mesmo com a agressiva concorrência recente, após a entrada de dezenas de novos grupos no setor, a Caixa tem que ter uma atuação relevante no segmento.
"Considerando tamanho da Caixa, não tem explicação ter uma participação ínfima em negócios como cartões e seguros", disse.
MUDANÇA DE RUMOS
As declarações revelam a dramática reviravolta nos rumos da Caixa, um dos principais vetores do governo federal na última década para tentar estimular a economia por meio da oferta de crédito. Nos últimos dois anos, em meio a bilhões em perdas com calotes, reduziu fortemente sua atividade em crédito comercial.
Agora sob orientação pró-mercado do governo de Jair Bolsonaro, Guimarães vem conduzindo a Caixa para arenas dominadas por seus rivais privados, notadamente em seguros, pagamentos eletrônicos e setor habitacional.
No setor habitacional, o banco baixou a taxa do empréstimo com recursos do SBPE para níveis similares ao que praticava há cerca de dois anos, quando o banco então diminuiu o volume ofertado, diante da necessidade de elevar seu nível de capital.
Agora, com um índice de Basileia em torno de 20 por cento, Guimarães avalia que o banco está em condições de retomar a liderança no financiamento habitacional pelo SBPE, condição que já atingiu em março e que deve se manter.
Além de voltar a acelerar os financiamentos no setor, o banco vai ampliar a oferta de produtos próprios, incluindo seguros e serviços, como corretagem.
Na Caixa Imóveis, braço de serviços imobiliários no qual hoje detém 49,9 por cento, Guimarães adiantou que o negócio só será mantido se o desenho societário for reformulado, com a Caixa tendo 75 por cento do capital.
"Não precisamos manter a Caixa Imóveis. Ou teremos o controle do negócio ou ele será fechado", concluiu.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)