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ENTREVISTA-Estratégia da Opep aumenta dúvidas sobre produção de petróleo no Brasil, diz BofA

Publicado 09.12.2015, 17:22
Atualizado 09.12.2015, 17:40
ENTREVISTA-Estratégia da Opep aumenta dúvidas sobre produção de petróleo no Brasil, diz BofA
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Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - A inércia da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em atacar o excesso de oferta global e os baixos preços da commodity lança mais dúvidas sobre o futuro da produção petrolífera no Brasil, disse nesta quarta-feira o principal analista de commodities do Bank of America Merrill Lynch.

A última reunião da Opep, liderada pela Arábia Saudita, terminou sexta-feira passada sem nenhuma conclusão ou promessa de ação por parte do grupo para limitar a produção, o que derrubou os preços do petróleo Brent para mínimas de quase 7 anos, abaixo de 40 dólares por barril.

"Um dos efeitos colaterais da política da Arábia Saudita é derrubar os produtores de maior custo (como o Brasil)... O dinheiro não está disponível em geral, para qualquer investimento. Se você tem alto custo, está menos disponível. E se você tem alto custo e problemas de corrupção, o dinheiro está menos, menos, disponível ainda", disse o diretor global de pesquisa em commodities e derivativos do BofA, Francisco Blanch, em entrevista à Reuters.

Recentemente, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Eduardo Braga, disse que o pré-sal --nova fronteira onde o país espera garantir boa parte de seu crescimento de produção-- seria viável mesmo com preços do petróleo abaixo de 35 dólares por barril.

Além das cotações atuais do petróleo estarem muito perto deste nível de viabilidade financeira, Blanch lembrou que os custos de produção variam bastante em cada área.

Tudo isso torna muito difícil para o Brasil atrair interessados em fazer grandes novos investimentos na exploração e produção do país.

No mais recente leilão de blocos exploratórios realizado pelo governo federal, foram arrematados pouco mais de 10 por cento das áreas ofertadas, com ausência de lances da Petrobras (SA:PETR4) e de outras grandes petroleiras internacionais.

"Há muitos desafios financeiros e de financiamento (de projetos), e sou cético sobre a capacidade do Brasil de encontrar recursos. Isso vai impactar o perfil de produção do país no médio prazo", disse Blanch. "(A expansão da produção brasileira) vai depender muito de como os sauditas vão atuar na guerra de preços."

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima que a produção de petróleo no Brasil em 2020 deverá alcançar cerca de 3,6 milhões de barris por dia (bpd), patamar bem abaixo de projeções anteriores da reguladora, que chegaram a girar perto de 5 milhões de bpd.

O pesquisador do BofA lembrou o caso do México, que realizou recentemente uma grande reforma em suas diretrizes para o setor, mas sem sucesso em atrair novos investimentos que possam reverter vários anos de queda na produção.

"O México tem tido dificuldades de atrair capital, mesmo depois de uma grande reforma energética. Acho que o Brasil deveria estar tomando notas. Quanto dinheiro virá para o Brasil?", questionou Blanch.

MERCADO GLOBAL

O BofA Merrill Lynch cortou na terça-feira em 5 dólares por barril sua estimativa de preços médios para o petróleo Brent em 2016, para 50 dólares em média.

"O primeiro semestre vai ser irregular e eu vejo o Brent perto de 40 a 45 dólares. Mas eu vejo uma recuperação no segundo semestre do ano que vem, por causa da demanda (forte) e porque a oferta está caindo", afirmou Blanch.

No geral, o quadro de baixos preços do petróleo é ruim para a economia brasileira, que tem nas commodities --soja, minério de ferro, petróleo e carnes-- o pilar de sua pauta de exportações, afirmou o analista.

"Preços baixos do petróleo tendem a resultar em baixos preços para as commodities", destacou Blanch." Metade do mercado global de commodities é petróleo."

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