(O autor é repórter sênior do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Aluísio Alves
SÃO PAULO, 17 Nov (Reuters) - Tão ou mais críticos do que os estragos políticos, os passivos econômicos da operação Lava Jato devem se fazer sentir nos próximos meses, à medida que o escândalo de corrupção da Petrobras (SA:PETR4) se alastra para as maiores empreiteiras do Brasil.
Juntas, Odebrecht, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, OAS e Queiroz Galvão, todas citadas nas investigações da Polícia Federal, são nomes frequentes em licitações de infraestutura, área vista por governo e setor privado como a tábua de salvação para o investimento, cuja participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro só faz cair há quatro trimestres seguidos.
Diante da gravidade das notícias, envolvendo prisões de altos executivos de algumas dessas empresas, seria ingênuo imaginar que o pacote de concessões federais de rodovias, ferrovias e portos, hoje na prateleira, não vai atrasar ainda mais.
De um lado, as empresas poderão ser alvos de potenciais constrangimentos regulatórios, já que companhias consideradas inidôneas são proibidas de participar de licitações públicas. De outro, elas próprias vão consumir bastante de seus esforços para lidar com questões, digamos, mais delicadas, especialmente nos casos das que têm altos executivos atrás das grades.
Uma amostra dos estragos potenciais de uma investigação por denúncias pode ser o caso Alstom, em que a empresa francesa foi acusada de pagar propina a vários políticos do Estado de São Paulo relativas a obras do metrô. O episódio foi apontado como um dos fatores que contribuíram para o adiamento da licitação do trem de alta velocidade, que vai ligar São Paulo e Rio de Janeiro.
Assim, mesmo que o suposto envolvimento das empreiteiras no caso Petrobras não chegue às últimas consequências, imaginar que a vida voltará ao normal com a urgência que a economia precisa parece um devaneio.
Ciente disso, a recém-eleita presidente Dilma Rousseff se adiantou no domingo, afirmando que não vai "demonizar as empreiteiras" nem colocar "carimbo" nas empresas.
Isso parece indicar que a estratégia para evitar a exclusão sumária e generalizada de empreiteiras das concessões -- justamente no momento em que elas são peça fundamental do esforço federal para se distensionar a atribulada relação que marca o primeiro mandato Dilma -- será defender a punição apenas das pessoas ou subsidiárias envolvidas.
A Odebrecht, por exemplo, deixaria de fora do tiroteiro a Odebrecht Energia, membro do consórcio da hidrelétrica de Santo Antônio, e a Odebrecht Transport, do consórcio da BR-163 (MT), e que administra o aeroporto do Galeão (RJ). Sozinho, o conglomerado baiano tem, ou tinha, planos de investir 53 bilhões de reais entre 2014 e 2016.
Na mesma linha, uma subsidiária da Queiroz Galvão compõe o consórcio que venceu o leilão de concessão da rodovia BR-153, no trecho entre Tocantins e Goiás, em maio.
Essa pode ser a solução para evitar que outra pedra no caminho atrase ainda mais o Programa de Investimentos em Logística (PIL), promessa da presidente em 2012, incluindo quase todas as concessões de ferrovias e portos, num total estimado em 120 bilhões de reais.
A indicação da presidente de que as empreiteiras não devem ser sacrificadas pelos eventuais malfeitos de alguns executivos pode ser um aceno para reaproximação com o setor privado. A relação tem ficado estremecida nos últimos anos, com empresários acusando o governo de interferência excessiva no ambiente de negócios.
Acender o cachimbo da paz com o empresariado parece ser a melhor, senão a única chance de Dilma retomar a confiança na economia, cujo fraco desempenho quase pôs sua reeleição a perder e que já promete comprometer um naco do seu segundo mandato.
* * Esta coluna foi publicada na 2ª-feira no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.