Estrasburgo (França), 12 dez (EFE).- O Parlamento Europeu (PE) lançou nesta quarta-feira uma mensagem de repúdio à repressão do regime iraniano de Mahmoud Ahmadinejad com a concessão de seu prêmio mais prestigiado, o Prêmio Sájarov à Liberdade de Consciência, a dois opositores presos, Nasrin Sotudeh e Jafar Panahi,
Os agraciados enviaram seus agradecimentos através da vencedora do prêmio Nobel da Paz de 2003, Shirin Ebadi, e do diretor de cinema franco-grego Costa Gavras, já que Panahi, cineasta que Teerã proibiu de filmar no país, está sob prisão domiciliar, enquanto Nasrin encontra-se detido na prisão iraniana de Evin por defender ativistas contra o regime.
"Dedico o prêmio a todos os lutadores anônimos pela liberdade, a todos os que brigam pela paz no mundo inteiro", assinalou Panahi em seu discurso.
"A luta pelos direitos humanos não se acabará, apesar de nos levarem à prisão. A tocha da liberdade nunca se apagará", trazia o trecho da carta lida por Shirin e escrita por Nasrin.
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, afirmou que o prêmio "os encorajam a não abandonarem a luta pela liberdade" e fez questão de deixar claro à resistência iraniana que "o Parlamento Europeu não é indiferente" a sua causa.
Após os discursos, os organizadores depositaram os prêmios Sájarov em duas cadeiras vazias no plenário e tocaram a "Ode à Alegria", o hino europeu de Ludwig Van Beethoven, momento em que Shirin não pôde conter as lágrimas pela emoção.
Perante o plenário, a Nobel da Paz de 2003 declarou que "os dois assentos vazios simbolizam a repressão do regime iraniano contra seus cidadãos".
A ausência dos premiados na cerimônia de entrega já foi registrada em outras ocasiões nos últimos anos, como em 2010, quando o dissidente cubano Guillermo Fariñas não teve permissão do governo de Havana para viajar à França.
Neste aspecto, o presidente do PE afirmou que "algum dia os agraciados poderão ir buscar o prêmio", pois "os regimes não duram para sempre", enquanto o cineasta Costa Gavras fez uma chamada às instituições internacionais para que "façam algo a mais do que fazem agora para acabar com o regime iraniano".
Em relação a este pedido e em resposta a várias perguntas da imprensa sobre as relações bilaterais entre a UE e o Irã, o presidente da Eurocâmara disse que "não lhe resta outra alternativa a não ser negociar com o regime".
"Alguém me disse uma vez algo que nunca esquecerei: Se quiserem salvar alguém da forca tens que falar com o carrasco, e isso resume nossa relação", declarou o social-democrata alemão. "Só podemos ajudar os cidadãos se falarmos com o regime que lhes oprimem", acrescentou.
Panahi é um dos máximos expoentes do cinema iraniano e já foi premiado na maioria dos grandes festivais de cinema, como Cannes, Veneza e Berlim, com filmes que captam a rotina da população mais vulnerável no Irã, especialmente mulheres e crianças.
O cineasta foi detido em março de 2010 e, posteriormente, sentenciado a seis anos de prisão e outros 20 de inabilitação para fazer cinema.
Já Nasrin, que foi detida em 2010 por distribuir propaganda contra o regime e por supostas "ameaças à segurança nacional", segue detida na prisão iraniana de Evin em regime de isolamento e incomunicação.
Além de ativista, Nasrin foi advogada de Shirin, que hoje assinalou que a maioria de seus defensores nas causas de oposição ao regime que enfrentou no país está presa.
Junto à vencedora do prêmio Nobel de 2003 e a Costa Gavras, também recolheram o prêmio o ativista e advogado pelos direitos humanos Karim Lahidji; a filha de Panahi, Solmaz, e o crítico de cinema e diretor da Filmoteca francesa, Serge Toubiana. EFE
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