Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A pedido do presidente-executivo Pedro Guimarães, a Caixa Econômica Federal está preparando uma provisão extraordinária de até 7 bilhões de reais para perdas esperadas com calotes no financiamento imobiliário e com a desvalorização de imóveis que foram retomados pelo banco, disseram à Reuters duas fonte com conhecimento do assunto.
Se efetivada, a medida deve reduzir o lucro anual da Caixa para menos de 10 bilhões de reais. Em 2018 até setembro, o lucro líquido do banco tinha sido de 11,5 bilhões de reais e a expectativa do próprio banco era de que esse montante subisse para ao redor de 16 bilhões até dezembro, disse a primeira fonte.
A medida resulta da ordem de Guimarães para adoção de uma abordagem contábil mais conservadora em relação a possíveis prejuízos do maior financiador imobiliário do país, que tinha uma carteira no setor de 440 bilhões de reais em setembro.
De acordo com dados dos balanços da Caixa, operações imobiliárias classificadas pelo banco com ratings de 'D' a 'H', com maior chance de não pagamento pelo tomador, equivaliam em setembro a cerca de 6,6 por cento da carteira total do setor, uma proporção praticamente estável em relação a um ano antes.
Além disso, o banco tinha uma carteira de 10 bilhões de reais com os chamados 'bens não de uso próprio', na prática, imóveis retomados por inadimplência do mutuário. Um ano antes, essa carteira era de 7 bilhões de reais.
A decisão sobre a provisão extra está criando insatisfação dentro do banco. Entre altos diretores da Caixa envolvidos na confecção das demonstrações contábeis, a ordem de Guimarães está sendo interpretada como uma desautorização às práticas adotadas até a virada do ano, que tinham aval de auditores independentes, do Banco Central e do Tribunal de Contas da União (TCU).
"Mas é pior do que isso, ele (Guimarães) está mudando a prática contábil sobre uma gestão que não é dele", disse a fonte. "Se fosse fraude, ele deveria comunicar isso para as autoridades competentes, mas não é o caso", disse a priemira fonte.
Mas a movimentação de Guimarães, que tomou posse no começo de janeiro, também tem incomodado funcionários da Caixa que tomaram conhecimento do assunto, uma vez que a provisão extra significará redução do montante que será distribuído aos empregados na forma de participação dos lucros.
"Em 2018 houve uma campanha comercial muito grande dentro do banco, e a equipe toda trabalhou bastante para alcançar um resultado recorrente melhor", disse a primeira fonte. "Isso agora iria desmotivar muito os empregados."
A Caixa Econômica é o único dos grandes bancos do país que ainda não divulgou suas demonstrações contábeis referentes a 2018. E ainda não há previsão para publicação do documento.
A diretiva de Guimarães para uma provisão bilionária extra vai na direção de tentar alinhar as práticas do Caixa às utilizadas pelos bancos privados, enquanto prepara a venda parcial de negócios da instituição, que pode incluir os braços de seguros, de cartões e de gestão de recursos, disse outra fonte.
Ícone de uma campanha do governo federal no começo da década para tentar estimular a vacilante economia do país por meio da oferta de empréstimo mais barato, a Caixa ganhou participação no mercado de crédito, enquanto os rivais privados se retraíam na época.
Nos últimos anos, porém, diante da recessão de 2015-16, o banco foi levado a desacelerar fortemente as concessões de financiamento, ao mesmo tempo em que elevou as provisões para perdas com calotes. Isso envolveu voltar a se concentrar em linhas consideradas de menor risco, como a imobiliária.
Ainda assim, a Caixa teve que enfrentar perdas maiores com o setor imobiliário, em parte devido à desvalorização dos imóveis que foram retomados por inadimplência.
No ano passado, o banco chegou a tentar vender lotes de imóveis retomados para grandes investidores, mas o leilão fracassou.
Procurada, a Caixa afirmou que não comentaria o assunto.