Por Gabriela Mello e Gram Slattery
SÃO PAULO (Reuters) - A Cyrela (SA:CYRE3) está entrando no segmento de empréstimos com imóveis em garantia este ano por meio de uma startup que terá capacidade de financiamento de até 150 milhões de reais, disse à Reuters o diretor administrativo financeiro da incorporadora, Juliano Bello.
A plataforma batizada de "CashMe" já está em fase de testes e será 100 por cento detida pela Cyrela, contou o executivo, que se encarrega das iniciativas de tecnologia e inovação dentro da companhia.
A construtora, uma das maiores no segmento de médio e alto padrão, está estruturando um fundo para levantar cerca de 50 milhões de reais em uma primeira rodada de financiamento para a CashMe, prevista para acontecer até o fim do ano.
"Temos aprovação para 150 milhões de reais, dos quais 50 milhões de reais serão levantados até o fim do ano e o restante depois via captação externa ou caixa", explicou Bello, lembrando que a posição de caixa da Cyrela é "confortável". Ao fim de março, a companhia tinha caixa total de 1,116 bilhão de reais.
De acordo com ele, o mercado de empréstimos com imóveis em garantia atualmente movimenta cerca de 16 bilhões de reais no Brasil e tem potencial para chegar a 100 bilhões de reais em crédito concedido nos próximos 10 anos.
Em apenas dois meses de operação, a CashMe já soma mais de 40 milhões de reais em propostas de crédito e iniciará no segundo semestre campanhas digitais para ampliar a atuação. A proposta da startup é viabilizar a análise e aprovação do crédito em até dois dias.
Além da CashMe, a Cyrela atualmente trabalha com mais de 20 startups, entre elas a Quinto Andar, por meio da qual mais de 1.500 clientes investidores da construtora já conseguiram alugar os imóveis adquiridos.
Há cerca de um ano a companhia também automatizou todo o sistema de pagamento de IPTU com um projeto de inteligência artificial desenvolvido pela startup Nuveo, que permitiu uma redução de 1 milhão de reais por ano em custo com multas de atraso.
Mais recentemente, a Cyrela firmou parceria com a Homelande para uma ferramenta já integrada com a maioria dos bancos que analisa todos os documentos do cliente e já determina a melhor alternativa de financiamento bancário, acelerando o processo que normalmente leva até 45 dias.
Outra iniciativa em fase de desenvolvimento é uma joint venture com a startup Wed.Biz que permitirá presentear casais com a parcela de entrada na compra de imóvel de qualquer construtora. A Cyrela ainda não fez um aporte no projeto, que segundo Bello terá uma estrutura de custo baixo de cerca de 3 milhões a 4 milhões de reais.
Na avaliação do executivo, a atuação de startups no setor imobiliário ainda é incipiente e são muitas as oportunidades no Brasil. "Temos cerca de 10 mil startups no país e só 80 atuam no setor", afirmou Bello, acrescentando que há mais espaço para o desenvolvimento de soluções em processos burocráticos que de negócios.
LANÇAMENTOS
Para 2018, a Cyrela espera lançar mais imóveis. "Nós temos expectativa muito positiva para São Paulo esse ano, com projetos mais assertivos", destacou o executivo. De acordo com ele, a construtora já conseguiu reduzir o volume dos estoques, que estão concentrados em praças com maior liquidez, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e cidades no sul do país.
No primeiro trimestre, a empresa lançou seis empreendimentos, o equivalente a um Valor Geral de Vendas (VGV) de 434 milhões de reais, 29 por cento menor em relação ao mesmo período de 2017, conforme prévia operacional divulgada em 12 de abril.