Por Marcelo Rochabrun
SÃO PAULO (Reuters) - Os maiores fabricantes de caminhões do Brasil estão otimistas novamente sobre as perspectivas de crescimento da maior economia da América Latina, mesmo com o país ainda encontrando dificuldades para se recuperar de uma profunda recessão que começou em 2015.
"Estamos respirando otimismo", disse Martin Lundstedt, presidente-executivo do Grupo Volvo, que viajou a São Paulo para participar da exposição bienal Fenatran, o maior evento de caminhões do país.
"A América Latina... está voltando. Estamos tendo um ano muito forte."
O crescimento econômico, no entanto, tem sido lento no Brasil, com os economistas agora esperando um crescimento inferior a 1% em 2019, uma previsão que passou por várias revisões para baixo desde o início do ano. Ainda assim, apesar de toda a retórica, as quatro maiores fabricantes de caminhões do Brasil não anunciaram novos investimentos no país.
As vendas e a produção de caminhões desafiaram as tendências econômicas mais amplas, e a Anfavea revisou este mês suas previsões de crescimento para cima. A expectativa agora é de que as vendas domésticas de caminhões no Brasil cresçam 35%, enquanto a produção crescerá 8%, impactada por uma crise na Argentina, a segunda maior consumidora de caminhões brasileiros.
"O que acontece é que o mercado de caminhões está sempre à frente da curva, à frente do crescimento econômico", disse Wilson Lirman, que é chefe da Volvo na América Latina.
Esse crescimento econômico "começa agora", acrescentou Lirman, apontando para reformas financeiras radicais propostas pelo governo do Brasil, que eliminaram vários obstáculos no Congresso, mas ainda não receberam a aprovação final.
O Brasil tem a maior indústria automobilística da América do Sul e é uma base particularmente importante para as fabricantes de caminhões, onde é o segundo maior mercado da Volvo no mundo. O país era o maior mercado da Mercedes Benz no mundo antes da queda de sua economia em 2015. Mas continua sendo o maior mercado para a fabricante sueca Scania, uma subsidiária da Volkswagen AG.
As vendas de caminhões do Brasil atingiram 137 mil veículos em 2014 e caíram quase pela metade no ano seguinte, de acordo com dados da indústria. Elas cresceram significativamente desde então e vão alcançar 100 mil veículos pela primeira vez desde a crise daquele ano, mas ainda não se recuperaram a seus níveis atingidos pré-recessão.
"Muitos de vocês se lembrarão quando dissemos: 'Lembrem-se do mercado brasileiro porque estaremos prontos para quando ele voltar'", disse Stefan Buchner, chefe da Mercedes Benz Trucks, que também viajou a São Paulo para a feira Fenatran. "Agora, aqui estamos nós. O mercado brasileiro está crescendo."
A Mercedes Benz, líder de mercado no Brasil com cerca de 30% de participação de mercado, espera que 2020 seja um ano ainda melhor para o seu negócio de caminhões.
"Por que isso? Temos taxas de juros significativamente reduzidas", disse Philipp Schiemer, que lidera a Mercedes Benz na América Latina. "Tivemos anos muito ruins no setor de construção civil... mas está recuperando alguma força, e o negócio de varejo também está crescendo."
Nem todo mundo acredita no potencial comercial dos caminhões.
A Ford Motor Co (NYSE:F) anunciou este ano que abandonaria o negócio de caminhões na América do Sul, fechando sua fábrica mais antiga no Brasil, localizada no coração da indústria automobilística do continente: a cidade de São Bernardo do Campo. A Ford disse que isso era necessário para voltar à lucratividade no país, onde vem perdendo dinheiro há anos.
Enquanto o crescimento é robusto, os números globais de vendas ainda são historicamente baixos, o que significa que as taxas de crescimento podem parecer exageradas.
"A base é muito baixa, estamos saindo de uma crise", disse Luiz Carlos Moraes, executivo da Mercedes Benz que também é presidente da Anfavea, grupo comercial da indústria automobilística.
((Edição Redação São Paulo; +55 11 56447764))
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