No momento em que as pesquisas de intenção de voto ainda colocam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com folga à frente do presidente Jair Bolsonaro, os principais gestores do País começam a preparar suas carteiras para conseguir lidar com a maior volatilidade do mercado e com os efeitos de novos gastos do atual governo - que tenta se manter competitivo para buscar sua reeleição.
Com o crescimento de medidas dadas como populistas, o sentimento na Avenida Faria Lima - principal corredor financeiro do País, em São Paulo - é o de que o quadro mais provável é de uma eleição apertada em outubro. Com isso, bancos e corretoras começam a fazer um pente-fino nas melhores opções de investimento.
O Verde, um dos fundos mais conhecidos do País, do gestor Luis Stuhlberger, destaca que o cenário mais provável em outubro é de pouca distância de votos entre os dois principais postulantes. "Acreditamos que um estreitamento da diferença entre os dois candidatos é bastante provável nos próximos dois meses, num fenômeno típico de incumbente buscando reeleição. Será interessante acompanhar a leitura dos mercados para tal fenômeno", cita a gestora, em sua mais recente carta direcionada a cotistas.
No documento, o Verde afirma ainda que a principal posição do fundo segue em Bolsa brasileira, algo que ajudou a rentabilidade do fundo em julho. Por aqui, o fundo de Stuhlberger acredita que o ruído local foi reduzido porque os políticos estão focando suas energias na campanha eleitoral.
Ainda no Verde, a preocupação em torno de medidas populistas em ano de eleição levou o fundo a zerar uma posição vendida em dólar em relação ao real, ou seja, tirou da mesa a aposta de que o real se valorizaria. A avaliação da gestora é de que aumentou a preocupação em torno da situação fiscal no próximo governo.
Já a Rio Bravo, gestora do ex-diretor do Banco Central Gustavo Franco, relembra que Lula lidera com folga, inclusive com possibilidade de conseguir vencer já no primeiro turno, mas que "ninguém se arrisca a dar o assunto como decidido". A boa notícia, segundo Franco, que assina a carta da gestora enviada a seus cotistas, é de que uma chance de golpe político "perdeu substância".
"A estratégia habitual do presidente (Bolsonaro) de esticar a corda, agora mais diretamente ao sistema eleitoral, como evidenciado pela fracassada reunião do presidente com os embaixadores, talvez tenha servido para organizar resistências a qualquer fator externo à voz das urnas."
LIQUIDEZ
Na gestora Capitânia, os desafios de investir em ano eleitoral são evidenciados. "Entendemos que nesse cenário precisamos ficar bem atentos a oportunidades de desinvestimento e realocação em ativos com menor risco de liquidez e maior carrego", conforme a carta referente ao mês de agosto. Isso significa que a gestora prefere ativos que são mais fáceis de serem vendidos, para conseguir mudar de posição com mais facilidade.
A mesma leitura faz o Daycoval. A escolha tem sido por ativos de fácil negociação, para manter em dia a relação entre risco e retorno. Fora isso, a instituição acredita que, apesar da pressão inflacionária, o Banco Central conseguirá ancorar as expectativas para os próximos anos, apesar das "indefinições políticas com a proximidade das eleições presidenciais e eventuais pressões para mais gastos fiscais".
Já a gestora Sharp adverte que o calendário obrigará, em breve, a um maior foco do mercado nas eleições. "O mercado tem começado a prestar mais atenção não só nas consequências dos resultados das urnas, como nas medidas populistas colocadas em prática atualmente. Dito isso, seguimos com investimentos que têm, relativamente, baixa correlação com um cenário específico de atividade econômica", conforme o documento.
Na AZ Quest, a prioridade tem sido focar em ações de perfil mais defensíveis, ou seja, que historicamente têm menores oscilações de preços. "Nossas principais alocações seguem sendo no setor bancário e elétrico, estrategicamente defensivos, e nos setores petróleo & petroquímico e varejo", afirma a gestora.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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