Investing.com - O Ibovespa novamente destoa da alta dos principais índices do exterior e encerrou a sessão desta quinta-feira em baixa, chegando a perder o piso de 90 mil pontos. A combinação de fraca atividade econômica com problemas políticos levam os investidores ao sentimento de aversão ao risco no principal índice acionário brasileiro, refletindo também na desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar.
Nesta quinta-feira, o Ibovespa desabou 1,75% a 90.024,47 pontos, com boa parte da sessão operando no nível dos 91 mil pontos. Durante a tarde, o índice chegou ao piso de 89.778,11 pontos após a Vale (SA:VALE3) comunicar o Ministério Público de Minas Gerais sobre o risco de ruptura na cava da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), a partir do próximo domingo. As ações da companhia, que chegaram a ser uma das maiores altas do Ibovespa durante a manhã acompanhando a valorização do preço do minério de ferro, terminaram o pregão negociadas a R$ 46,31, baixa de 3,42%.
No mês de maio, até agora, apenas três sessões fecharam o dia no campo positivo, com perdas acumuladas de 6,57% até o momento. Maio vermelho eliminou os ganhos acumulados do Ibovespa neste ano, cujo pico foi atingido em 18 de março, quando o Ibovespa chegou aos 100 mil pontos no intraday, fechando a 99.993,92 pontos. Desde então, o índice perdeu um total de 9,19%. No ano, o Ibovespa ainda opera no azul, alta de 2,51%, mas se aproxima dos 87,8 mil pontos com que se iniciou o ano.
O dólar acompanha o pessimismo sobre o Brasil no mês. A moeda americana iniciou maio cotada a R$ 3,92, mas já acumula alta de 3% no período. Nesta quinta-feira, encerrou o dia em alta de 0,93% a R$ 4,0389, maior cotação desde outubro do ano passado, período que incertezas eleitorais impulsionavam desconfianças com o Brasil. No ano, o dólar sobe 4,08% em relação ao real.
Pessimismos econômico e político pesam
Os indicadores referentes à atividade econômica no Brasil no primeiro trimestre foram decepcionantes ante a expectativa do mercado. Nesta quinta-feira, o IBGE divulgou dados mais detalhados do mercado de trabalho do período. A taxa de desemprego está em 12,7%.
O IBC-Br, espécie de prévia do PIB, aponta queda de 0,68% da atividade economica no período, o que corrobora a avaliação do Banco Central de um nível de atividade economica decepcionante no período. Apesar de haver pressão para corte da taxa básica de juros para injetar ânimo na economia, a autoridade monetária avalia que só há espaço para corte caso a reforma da Previdência seja aprovada, assim dando uma perspectiva positiva sobre o horizonte das contas públicas. Caso não haja aprovação, eleva-se a probabilidade de risco de colapso fiscal e consequente elevação do nível de preço.
A aprovação da reforma da Previdência está ligada à capacidade do Palácio do Planalto de articular uma base no Congresso para votar favoravelmente a seus interesses. Apesar de o Ministério da Economia ter entregue uma proposta de mudanças nas regras previdenciárias com objetivo de economizar R$ 1,2 trilhão em 10 anos, a ala política do governo não vai conseguir impedir a desidratação. A retirada de pontos como aposentadoria rural e Benefício de Prestação Continuada (BPC) é dado como certo.
Os analistas de mercado já formam o preço dos ativos sob a hipótese da desidrataçao da proposta original. No entanto, as investigações contra família e pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro, as manifestações contra o contingenciamento de verbas para educação e as dificuldades de aprovação de outras pautas de seu interesse, como a redução do número de ministérios, começam a formar perspectiva negativa sobre a formação de uma base de parlamentares para aprovar a Previdência. Por isso, a líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou ontem que o governo talvez tenha que recomeçar a articulação do zero.
Ações
- ITAÚ UNIBANCO PN (SA:ITUB4) recuou 1,3% e BRADESCO PN (SA:BBDC4) perdeu 1,2%, reflexo do sentimento mais negativo no país, com BANCO DO BRASIL (SA:BBAS3) cedendo 3,1%.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) encerrou em baixa de 2,4%, mesmo com a elevação dos preços do petróleo no mercado internacional, também afetada pelo clima adverso nos negócios.
- EMBRAER (SA:EMBR3) caiu 3,9%, no segundo pregão seguido de queda forte, após divulgar na quarta-feira que ampliou o prejuízo no primeiro trimestre, reflexo da queda na receita causada por menos entregas de aviões no período.
- GOL (SA:GOLL4) recuou 7,4% com alta do dólar frente ao real e delação premiada de sócio da companhia envolvendo pagamento de propinas a políticos. No setor, AZUL caiu 3,8%.
- ULTRAPAR cedeu 4,5%, entre as maiores quedas após mostrar recuo no desempenho operacional no primeiro trimestre, embora o lucro tenha disparado devido à fraca base de comparação e a melhores resultados financeiros.
- MARFRIG (SA:MRFG3) saltou 7,9%, após reverter prejuízo e fechar o primeiro trimestre com lucro, apoiada sobretudo em melhores preços nas operações da América do Norte. As ações do setor de proteínas têm se beneficiado de expectativas de demanda maior devido ao surto de febre suína africana na China. JBS (SA:JBSS3) subiu 3,1% e BRF (SA:BRFS3) avançou 1,7%.
Exterior
A tensão comercial entre EUA e China ganharam novo capítulo com a inserção da Huawei na lista negra de “comércio”. Isso significa que empresas americanas não podem ser fornecedoras nem compradoras de produtos da companhia chinesa. O governo chinês já alertou que a medida pode prejudicar as negociações comerciais entre os dois países.
O tratamento dispensado à China pelos EUA é diferente aos tradicionais aliados europeus e japoneses. Na quarta-feira, o presidente dos EUA Donald Trump adiou em seis meses a elevação de tarifas sobre automóveis, que iriam prejudicar as exportações de seus parceiros.
Esta diferença de tratamento contribuiu para os índices fecharem no positivo na Europa e nos EUA. O Euro Stoxx 600, que reúne as principais ações europeias, subiu 1,27%. Em Wall Street, Dow Jones teve ganhos de 0,84%, S&P 500 subiu 0,89% e Nasdaq saltou 0,97%. Na Ásia, os índices chineses também subiram sob expectativa de novos estímulos para evitar a desaceleração econômica.
*Reuters contribuiu com essa matéria