Investing.com - Se não foi na semana passada, o temor do governo com a participação do ministro da Economia Paulo Guedes na audiência sobre a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aconteceu nesta quarta-feira. Guedes tinha participação agendada na terça-feira da semana passada, mas cancelou de última hora após aviso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que haveria apenas a presença de deputados da oposição, o que intensificaria a então crise de relacionamento entre o próprio Maia e a família Bolsonaro, além da ausência de cronograma de tramitação da reforma na própria CCJ.
Findada a crise e a escolha de relator para a Previdência, Guedes acertou a ida na audiência de hoje na Comissão e, realmente, os deputados da oposição tomaram a dianteira com críticas a Guedes e à reforma, com alguns momentos de bate-boca. O confronto foi interpretado pelo mercado como uma probabilidade de o governo não vir a ter uma base de apoio de aprovar a reforma da Previdência no plenário da Câmara, especialmente pela ausência de parlamentares dos partidos denominados de Centrão na CCJ.
Por isso, o Ibovespa reverteu uma alta que chegou a 1,1% para encerrar o dia com baixa de 0,94% a 94.491,48 pontos. A perspectiva negativa contaminou a negociação do dólar, que reverteu uma baixa que chegou a R$ 3,84 ao longo do dia para fechar a R$ 3,8787, queda de 0,57%.
Após Guedes na CCJ, a expectativa agora se transfere para a reunião, amanhã, entre o presidente Jair Bolsonaro com lideranças do DEM, PR, PRB e PP, partidos do Centrão e cruciais para a reeleição de Rodrigo Maia no comando da Câmara, quem também vai participar junto com o presidente do Senado Davi Alcolumbre. De acordo com a coluna Painel da Folha de S.Paulo, as lideranças desses partidos vão mais ouvir do que propor ou reivindicar cargos ao presidente, assim evitando ataques de Bolsonaro qualificando-se de “velha política”. Segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, presidente pode distribuir cargos para angariar apoio à reforma da Previdência. A perspectiva é que a reunião demonstre ser o primeiro passo para a solidificação da base de apoio do governo, mas longe de resolver as desconfianças entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
Exterior
O mercado brasileiro foi na contramão com o otimismo do exterior, com as principais bolsas mundiais fechando o dia em alta sob o avanço das negociações comerciais entre EUA e China. Fontes a par do assunto ouvidas pelo Financial Times dizem que 90% acordo está fechado, com dificuldades de encontrar consenso sobre tarifas e mecanismos de fiscalização nos EUA. As negociações prosseguem nesta semana, com o vice-primeiro-ministro chinês Liu He se dirigindo a Washington para se encontrar com representantes do governo americano, entre os principais o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, e o secretário do Comércio, Robert Lightzier.
Houve também divulgação de Índices de Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços de março nas principais economias, quase todos surpreendentemente positivos, o que dissipou um pouco o temor de desaceleração global. Na China, o índice de 54,4 veio bem acima das expectativas e no maior nível de 14 meses. Na zona do euro, o índice atingiu o maior nível desde dezembro.
Já os índices divulgados nos EUA trouxeram uma percepção de desaceleração. O Relatório de Processamento de Folhas de Pagamento (ADP, na sigla em inglês) apontou a criação de 129 mil vagas de emprego em março ante expectativa de 170 mil Foi o menor nível desde setembro de 2017. Já a atividade do setor de serviços atingiu a mínima de um ano e meio devido à redução das encomendas.
O sinal de desaceleração nos EUA trouxe novamente especulação sobre a pressão do presidente Donald Trump sobre o chairman do Fed Jerome Powell. Trump deseja que a atividade econômica dos EUA continue forte na segunda parte de seu mandato visando sua campanha de reeleição. Por isso, pressiona por uma postura mais dovish do Fed, com redução da taxa de juros.