São Paulo, 13 out (EFE).- O mecanismo de financiamento do jornalismo impresso pela publicidade está esgotado desde o nascimento da internet e não é possível prever um modelo único de sucesso para o futuro, disseram neste sábado especialistas e acadêmicos nos debates da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em São Paulo.
O jornalista e professor brasileiro Rosental Calmon Alves, especialista em veículos de comunicação social da Universidade do Texas (EUA), defendeu que a sustentabilidade econômica da imprensa acontecerá a partir de vários mecanismos.
"É uma revolução comparável à de Gutenberg", disse Alves, que acrescentou que o problema não é a circulação de jornais impressos, que vem se reduzindo há 60 anos, mas a drástica queda de receita pela publicidade.
Calmon Alves disse que a crise não é o fim dos jornalistas nem do jornalismo, já que os contadores de histórias existiram "desde as cavernas", mas apelou à necessidade de criar novos modelos para subsidiar o jornalismo e diminuir a dependência da publicidade "que não vai voltar".
"É uma lógica comunicativa nova", resumiu o especialista, que previu que o jornal impresso será um produto cada vez mais caro, até se tornar um objeto de luxo de difícil venda.
O presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián, disse que "ninguém tem a resposta" sobre as novas vias de financiamento, durante um debate que analisou modelos economicamente sustentáveis para o futuro da imprensa.
Cebrián, que preside o grupo editor do jornal "El País", lembrou que nenhum veículo migrou do papel para versões digitais com sucesso de rentabilidade econômica.
"Ninguém conseguiu rentabilizar nem migrar com sucesso" para a rede, disse Cebrián, afirmando que não existe um único modelo de negócio.
Cebrián analisou o cenário da queda de receita publicitária e explicou que para cada dólar líquido de publicidade gerado nas redes são destruídos 10 no jornal impresso.
"Essa é uma revolução sangrenta", declarou Cebrián, quem antecipou que só na Espanha 7 mil jornalistas perderão o emprego em um período aproximado de três anos.
Além disso, disse que as mudanças modificam a profissão jornalística e a estrutura das redações, detalhou que os produtos serão diferentes, vaticinou o desaparecimento das bancas de jornal e disse que o sistema de distribuição tradicional está "comprometido".
O presidente da Prisa explicou que essas mudanças têm efeitos sobre o jornalismo investigativo porque, apesar das possibilidades que a internet oferece, não será possível manter repórteres durante vários meses em uma investigação sem saber se haverá um resultado.
"Há uma ameaça real, devido à estrutura econômica do sistema, à qualidade jornalística, se não encontramos um modelo ou vários modelos que permitam monetizar toda a nossa atividade na rede", especificou. EFE
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