SÃO PAULO (Reuters) - É "lamentável" que a governança da Petrobras (BVMF:PETR4) sofra turbulências envolvendo as discussões de eventual troca do presidente-executivo da companhia, em meio a rusgas entre integrantes do governo e o CEO Jean Paul Prates, disse nesta sexta-feira Francisco Petros, um dos conselheiros da estatal.
"A turbulência informacional acaba por criar grande inquietação para mercado, empresa e profissionais, o ponto baixo desse processo tem sido a disseminação de informações até de caráter reservado", disse Petros, em entrevista à GloboNews.
As notícias em torno da saída do atual CEO acontecem após discordâncias entre o executivo e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ficarem públicas, em temas envolvendo o pagamento de dividendos extraordinários da estatal.
O conselheiro eleito pelos acionistas minoritários ressaltou que a governança da Petrobras mudou após a Operação Lava Jato e que a companhia tem parâmetros de conformidade legal, ética e capacidade profissional que devem ser seguidos.
"A Petrobras, para o bem inclusive do próprio Estado brasileiro, não é um caudatário da mera decisão de um ou de outro acionista."
Petros disse também que a forte volatilidade das ações da Petrobras em meio aos rumores de troca no comando da estatal traz "muita" preocupação para o conselho, uma vez que afeta diretamente o nível de risco associado à companhia em emissões e captações.
Segundo ele, os conselheiros da estatal têm o dever de observar esse cenário e "minimizar riscos" para a companhia.
"Ao fim e ao cabo, as responsabilidades são iguais, os deveres são iguais, inclusive do ponto de vista legal... Muitas vezes quem está fora da empresa, inclusive dentro do próprio governo, tem a visão de que o dever primordial do conselheiro do governo é para com o governo, gostaria de alertar que isso é muito arriscado", observou.
Questionado sobre a gestão de Prates, ele disse ter uma avaliação positiva, mencionando que o executivo é um profissional competente e com bom relacionamento internacional.
Os rumores de mudança na presidência da Petrobras cresceram na véspera. Mais cedo nesta sexta-feira, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, afirmou que a Petrobras contará com um ambiente de "estabilidade" nas próximas horas ou nos próximos dias.
Na avaliação do JP Morgan, a eventual mudança no comando da estatal deveria ser reavaliada pelo governo, já que a medida traria "incertezas" em relação a pilares fundamentais para a Petrobras.
"Jean Paul Prates já possui mais de um ano de mandato na Petrobras e, durante esse período, sua gestão abordou pilares fundamentais para a Petrobras -- como política de preços, política de dividendos e planos de investimentos -- e embora todos eles tenham sido alterados, as mudanças não foram drásticas o suficiente para trazer riscos à tese de investimento", disse o banco em relatório.
(Por Letícia Fucuchima; com reportagem adicional de Paula Arend Laier)