BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, não irá mais à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nesta terça-feira, numa decisão que mexeu com os mercados em meio à falta de articulação consistente para a reforma da Previdência caminhar no Congresso.
O cancelamento do compromisso, segundo o Ministério da Economia, se deu por conta da indefinição no colegiado do nome do relator da reforma da Previdência.
O presidente da CCJ da Câmara, Felipe Francischini (PSL-PR), afirmou que espera uma melhora do clima político para realizar a indicação, ainda nesta semana.
Os mercados reagiram à notícia sobre a desistência de Guedes. O dólar passou a subir ante o real, assim como os DIs adotaram viés de alta, enquanto o Ibovespa se afastou das máximas.[nL1N21D0SK]
"A equipe técnica e jurídica da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho estará à disposição para representar o ministro Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados para esclarecer pontos da PEC (Proposta de Emenda à Constituição)", disse o ministério em nota à imprensa.
"A ida do ministro da Economia à CCJ será mais produtiva a partir da definição do relator", acrescentou a nota.
Antes mesmo da confirmação oficial do cancelamento da ida de Guedes, o líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), avaliou em nota que a desistência era "muito ruim".
"A decisão de não vir também impede a Câmara de debater profundamente a proposta e de mostrar alternativas ao governo. Portanto, fugir ao debate nunca é uma boa solução", disse.
A ida de Guedes à CCJ havia sido alinhavada pelos parlamentares em meio a um acirramento do ambiente político nos últimos dias, com troca de acusações entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais fiadores da reforma da Previdência, e o presidente Jair Bolsonaro, sobre a articulação necessária para fazer a proposta enfim caminhar.
A CCJ da Câmara é somente o primeiro passo da PEC no Congresso. Vencida essa etapa, a proposta tem que passar por comissão especial da Câmara e, depois disso, ser votada em dois turnos no plenário da Casa, onde deve receber o apoio de pelo menos três quintos dos deputados.
Em seguida, parte para o Senado, onde passa por comissão antes de ser submetida a plenário, também em dois turnos de votação.
(Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de Anthony Boadle)