Guerra comercial favorece Brasil, diz CEO da SLC, que tem visão positiva para grãos

Publicado 13.03.2025, 11:37
Atualizado 13.03.2025, 11:41
© Reuters. Colheita de soja n03/04/2024nREUTERS/Diego Vara

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A guerra comercial disparada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerando retaliações tarifárias de outros países, é favorável ao Brasil, afirmou nesta quinta-feira Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola (BVMF:SLCE3), uma das maiores empresas produtoras de grãos e algodão do Brasil.

"A guerra comercial continua beneficiando o agro brasileiro e o Brasil como um fornecedor seguro para clientes que demandam alimentos", destacou ele, durante teleconferência para comentar os resultados trimestrais divulgados na véspera.

O benefício viria especialmente de uma demanda firme da China, maior importador de soja do mundo. Ele ponderou que, dessa vez, a China está com mais estoques e depende menos dos EUA em relação à guerra comercial anterior.

Pavinato estimou que a China deverá importar 80 milhões de toneladas do Brasil e 21 milhões dos EUA em 2025.

"A dependência da China dos EUA na importação de alimentos reduziu drasticamente. Se a China importar zero soja dos Estados Unidos, ela não vai passar fome, ela consegue importar do Brasil e da Argentina", acrescentou.

Ele comentou também que a China não depende mais dos EUA no segmento de milho, na medida que em sua produção vem aumentando e também com a possibilidade agora de importar do Brasil, algo que não havia na guerra comercial anterior, em 2018.

No algodão, ressaltou ele, o Brasil vai ser logo capaz de suprir toda a demanda importadora da China, "e ela não vai precisar mais dos EUA".

A interdependência da China e EUA "diminuiu muito", afirmou.

"A pergunta é: haverá um novo acordo (entre EUA e China) vinculado ao agro (como aconteceu na guerra comercial anterior)?Nós acreditamos que não, pode ter um acordo, mas o pilar não será o agro. A guerra comercial de 2025 é muito mais geopolítica do que comercial, está dando a entender isso".

"Um acordo comercial como aconteceu no Trump 1 poderia não ser benéfico para o Brasil, teria um acordo em que a China importasse mais dos EUA, mas a gente não acredita nesta perspectiva de que isso vá acontecer."

CHINA ESTOCADA

Por conta dos impactos da guerra comercial dos EUA com a China, que aplicou uma taxa de 10% sobre a oleaginosa norte-americana, "temos visão positiva da demanda da produção brasileira", disse Pavinato.

O CEO da SLC comentou que a relação de estoque/consumo de soja no mundo está mais alto, em 30%, contra um "normal" que seria de 28%.

Mas ele ponderou que os estoques estão mais altos na China, que contaria atualmente com 43 milhões de toneladas de soja.

"O estoque da soja está alto? Está, mas está dentro da China, no mundo, ele não está alto. Então isso é mais um dado que reforça a nossa visão não baixista para a soja", destacou.

Pavinato lembrou que a guerra comercial já está fortalecendo os prêmios pagos pela soja do Brasil em relação ao preço do mercado referencial de Chicago.

Ele disse que o prêmio tem potencial de subir 10%, justamente a taxa aplicada pela China contra a soja dos EUA.

"Falo um dólar (por bushel) a mais em relação ao prêmio normal, com super safra no Brasil o prêmio seria zero ou negativo, agora já subiu 50 a 60 centavos, tem potencial de subir 10%, que é a tarifa da China aplicada", disse.

O milho tem se sustentado em preços mais altos, pois está com uma relação de estoque/consumo menor no mundo, afirmou Pavinato, estimando um novo déficit na produção global.

Isso indiretamente sustenta os preços globais da soja, que concorre com o milho por áreas em vários países.

"Temos visão de que os preços estão em patamares baixos hoje, especialmente na soja, milho nem tanto, devem se sustentar... e por que não terem repique com mercado climático?", questionou, referindo-se aos momentos em que os preços oscilam durante a temporada de plantio e desenvolvimento nos EUA.

No caso do algodão, ele afirmou que as políticas de Trump trazem "inseguranças" que impactam a demanda do produto final, como as roupas, o que afeta o preço da commodity.

"Nossa visão é de que o preço de algodão está baixo, está abaixo dos custos de produção nos principais países, e esta insegurança em relação à demanda tem provocado pressão sobre preços", afirmou ele, concluindo que o Brasil mais competitivo na produção tende a tirar proveito deste cenário.

 

(Por Roberto Samora)

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