Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A importação de diesel russo pelo Brasil neste mês deve saltar para 53% do total importado do produto pelos brasileiros, ante apenas 0,2% em abril de 2022, à medida que o combustível da Rússia vem chegando a valores mais baixos no mercado do país, projetou nesta terça-feira a agência Argus, especializada em preços e serviços de consultoria.
A estimativa foi feita considerando uma previsão de desembarque de diesel russo trazido por 10 a 15 navios, que geralmente carregam cerca de 50 mil metros cúbicos, disse a especialista em mercado de diesel da Argus Gabrielle Moreira, À Reuters.
"Fica difícil competir, o diesel russo chega abaixo do preço de venda de refinarias nacionais e abaixo do valor do produto importado de outras origens", disse Moreira, durante evento da Argus, em São Paulo.
Os dados reunidos pela Argus apontam ainda que o produto russo está tomando mercado do diesel norte-americano, que tradicionalmente responde pela maior parte do produto importado pelo Brasil, que compra no exterior cerca de 30% de suas necessidades.
Segundo estimativa do presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araujo, o diesel russo chega ao Brasil entre 20 e 30 centavos de dólar por galão mais barato ante importação de outras origens.
O diferencial russo representa 5% do valor do produto importado, disse ele ao ser questionado pela Reuters.
"A importação de diesel russo deve seguir crescente pelo menos nos próximos 12 meses", afirmou ele após palestrar no evento.
Ele disse que a Rússia tem ampliado exportações de diesel para o Brasil diante de embargos ao produto russo pela Europa, que antes da guerra da Ucrânia era importante compradora.
O Brasil não tem restrições para importações de diesel russo, apesar das sanções internacionais existentes ao produto da Rússia em outras partes do mundo.
Contudo, algumas companhias, por questões relacionadas a regras de compliance, evitam aquisições do combustível da Rússia, temendo sanções financeiras.
Segundo participantes do seminário, as distribuidoras regionais de combustíveis do Brasil, muitas delas de menor porte, têm aproveitado os bons preços do produto russo para ampliar importações.
O diretor de comercialização da Acelen, Josué Bohn, disse que a refinaria de Mataripe, de propriedade da empresa na Bahia, ainda não foi impactada pelas maiores importações do produto russo.
Mas ele não descartou que isso possa acontecer nos próximos meses, na medida em que as compras externas aumentem.
Contudo, Bohn destacou que, como refinadora no Brasil, a Acelen não vai perder mercado. "Vamos buscar ser competitivos", disse ele, à Reuters, durante o evento.
Em 2022, as importações brasileiras de diesel ainda foram dominadas pelo produto norte-americano, que ficou com 57,2% do mercado, enquanto a Rússia abocanhou apenas 1%, segundo dados do governo compilados pela Argus.
No primeiro trimestre deste ano, a participação da Rússia aumentou para 13,2%, enquanto os EUA responderam por 33,1% do diesel importado pelo Brasil.
O produto russo tem entrado principalmente via porto de Paranaguá, colaborando para abastecer o mercado do Sul do país. Mas o porto de Santos já vai começar a receber o produto em abril, segundo dados da Argus.