SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de petróleo e gás do Brasil tem visto forte apoio do governo do presidente Michel Temer a mudanças em questões cruciais da regulação energética do país, como o fim da obrigatoriedade de a Petrobras (SA:PETR4) ser operadora de todos campos do pré-sal e questões de política de conteúdo local, o que pode levar a um boom de investimentos, afirmou nesta quarta-feira uma associação que reúne as empresas do setor.
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Jorge Camargo, há uma expectativa de que o projeto que desobriga a Petrobras de operar todos blocos do pré-sal seja aprovado ainda neste ano, após as eleições municipais, enquanto o nível de nacionalização de equipamentos exigido no setor é alvo de um grupo de trabalho criado pelo governo junto a associações da indústria.
"As reuniões (com o governo) têm sido muito boas... temos levado essa agenda da indústria e ele (o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho) tem nos dito que essa é a agenda que o governo pretende implantar, ele tem dado muito apoio a essas mudanças", disse Camargo a jornalistas no intervalo de evento do setor em São Paulo.
O presidente do IBP disse que melhorias na regulamentação que tornem o Brasil mais competitivo podem dobrar a participação do país nos investimentos globais em exploração e produção de petróleo, dos atuais 5,8 por cento para entre 7 e 10 por cento, o que poderia ajudar inclusive na recuperação do Brasil diante da atual crise econômica.
"Daí a importância de a gente ter um sentido de urgência nessas mudanças necessárias para o setor de óleo e gás retomar. Os principais setores brasileiros dependem de certa retomada da economia para voltar a crescer... a indústria de petróleo não, ela é relativamente independente, só depende do preço do petróleo... pode ser um alavancador e ajudar a retomada da economia", afirmou.
Ele disse que, diante da recessão econômica e da crise da Petrobras, o setor vive talvez sua pior fase no país em 60 anos, mas mostrou-se animado com as sinalizações de mudança nas políticas energéticas apresentadas na gestão Temer, que assumiu o país após o afastamento da presidente Dilma Rousseff em um processo de impeachment.
O presidente da norueguesa Statoil no Brasil, Päl Eitrheim, também defendeu as mudanças citadas pelo IBP, como na operação do pré-sal pela Petrobras e no conteúdo local.
O comentário do executivo foi em linha com declarações do presidente da Petrobras, Pedro Parente, que afirmou na véspera ao presidente Michel Temer que mudanças em questões regulatórias podem dar resposta rápida para ajudar na retomada da economia brasileira.
FOCO NO BRASIL
O presidente da Statoil no Brasil reafirmou o grande interesse da companhia no país, onde ela é líder como operadora estrangeira.
Segundo ele, os recursos energéticos brasileiros são provavelmente os maiores e melhores entre qualquer democracia estável no mundo.
Ele lembrou que hoje os países competem globalmente pelos investimentos e disse que, com suas grandes reservas, o Brasil precisa apenas ajustar a regulamentação para torná-la simples e previsível, além de mais competitiva.
"Isso vai se traduzir em oportunidades no futuro... a Statoil já investiu no país e quer investir mais. É uma região 'core' para nós, a mais importante que temos fora da Noruega, e estamos no país para o longo prazo... não para os próximos dois ou três anos, mas para os próximos 30 a 50 anos", disse Eitrheim.
(Por Luciano Costa)